No dia 17 de março de 1945, nasceu em Porto Alegre Elis Regina, considerada uma das maiores vozes da música brasileira. Ao celebrar o 80º aniversário da cantora, diversas homenagens estão programadas para acontecer ao longo do ano, impulsionadas pelo trabalho dos seus herdeiros na administração de seu espólio. Uma das homenagens mais significativas envolve a reedição da biografia “Elis Regina — Nada Será Como Antes” (Companhia das Letras), que será liberada em versão revista e atualizada neste mês. O autor, Julio Maria, incorporou novas informações e centenas de declarações impactantes, incluindo um caderno onde Elis registrava seus planos futuros e suas opiniões sobre o Brasil.
O livro revela reflexões da artista sobre temas como saúde mental e sua postura ousada contra a ditadura militar. Seus pensamentos demonstram uma notável atualidade e clareza. Em relação ao regime militar, Elis expressou: “Talvez isso me cause alguns problemas, mas não faz mal. Eles (os militares) estão loucos, total e completamente, doidos varridos. Uma porção de amigos meus está presa, e o que foi que fizeram? Cometeram crimes? Não, apenas disseram a verdade.” Além disso, ela comentou sobre o sentimento coletivo durante o Carnaval, questionando a verdadeira liberdade durante o resto do ano: “Mudam tanto durante o Carnaval que eu às vezes me pergunto se haveria tanta necessidade de uma tal válvula de escape anual se durante o resto do ano a situação fosse também mais livre (…) Quatro dias depois tudo é esquecido e eles recaem na indolência habitual. Ah, odeio isso.”
Contrariamente à percepção de que pudesse ser indiferente às críticas, o livro evidencia que a cantora se importava, e muito, com o que diziam a seu respeito. Em um desabafo, ela afirmou: “Sempre liguei muito para o que diziam de mim. Aprendi na psicanálise que não se pode ser vulnerável diante das pessoas que nos rodeiam. Perdi a confiança em mim e no resto.” Contudo, essa insegurança não interferiu em seu talento musical, destacando: “Canto do jeito que acho que tenho de cantar. Se sai de um jeito ou de outro, perguntem a fórmula para os meus pais.”
