A escritora Clarice Lispector, que faleceu em 1997, se tornou um dos pensadores mais citados nas redes sociais, com suas frases repercutindo em diversos tópicos, que vão desde política até amor. Mesmo passadas quase cinco décadas desde sua morte, há um crescente interesse em sua obra, o que gerou o relançamento de biografias e dos seus romances, contos e crônicas.
Recentemente, a Editora Rocco lançou uma coletânea menos conhecida de sua produção: textos jornalísticos. A obra, intitulada “Grandes personalidades entrevistadas por Clarice Lispector”, reúne 83 entrevistas, incluindo várias inéditas em livro, realizadas pela autora nas revistas Manchete e Fatos & Fotos. Muitos dos entrevistados são figuras icônicas do cenário nacional e internacional.
A antologia foi organizada pela professora Claire Williams, especialista em Clarice Lispector e chefe do departamento de literatura e cultura brasileira do St. Peter’s College, na Universidade de Oxford. Williams destaca que, embora Clarice seja admirada por seus romances, seu talento como repórter deve ser igualmente reconhecido. Foram muitas suas entrevistas, que ocorreram ao longo de sua carreira, paralelamente à sua escrita literária, e essa atividade jornalística foi uma forma de garantir sua sobrevivência financeira.
Os textos, embora possam parecer de menor valor literário em comparação aos romances, são valiosos para entender a obra de Clarice quando analisados em contextos históricos e biográficos. Nesses textos, a autora discute seu processo criativo e compartilha aspectos de sua vida pessoal.
Clarice desenvolveu um estilo único e acessível de conduzir suas entrevistas, evitando o formalismo tradicional. Ela preferia anotar à mão as conversas em vez de gravá-las, o que permitia uma abordagem mais íntima. Entre os entrevistados estavam escritores, artistas, cientistas e até primeiras-damas, refletindo a diversidade de sua curiosidade intelectual.
Com um total de 420 páginas, o livro tem preço sugerido de R$ 109,90. As perguntas de Clarice, como “O que é a coisa mais importante do mundo?” e “O que é o amor?”, tornaram-se marcas registradas de suas entrevistas e desafiavam os entrevistados a pensarem profundamente sobre suas vidas e convicções.
Uma das entrevistas marcantes foi com o autor Nelson Rodrigues, onde Clarice pediu apenas por sua sinceridade. Em outra conversa, a respeito do arquiteto Oscar Niemeyer, ela o descreveu como um homem simples e melancólico. Ao interagir com Chico Buarque, Clarice percebeu um sorriso duplo do cantor, que refletia um humor amargo ligado à fama.
A proximidade entre Clarice e Tom Jobim também é notável em suas conversas, marcadas por trocas afetuosas e lembranças compartilhadas. Clarice revela ter sido surpreendida ao conhecer Clóvis Bornay, um ícone carioca, que demonstrou sinceridade e simplicidade, desafiando suas expectativas.
Uma entrevista memorável foi com Yolanda Costa e Silva, onde Clarice descreve a elegância discreta e o olhar penetrante da primeira-dama, revelando nuances raramente exploradas em sua obra. Essas conversas oferecem um panorama rico da personalidade e do pensamento de Clarice Lispector, convidando os leitores a explorarem ainda mais sua obra.