3 março 2025
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De Feio a Elegante: O Café Canéfora Brilha nas Cafeterias Especiais

Consumidores que frequentam cafeterias da terceira onda, dedicadas exclusivamente a cafés especiais, podem estar degustando café canéfora sem ter essa informação. Essa espécie, historicamente considerada inferior e associada a uma qualidade baixa, está se reabilitando e começando a competir com o popular arábica.

O processo de valorização do canéfora teve início há aproximadamente 18 anos, liderado pela família Venturim, do Espírito Santo, que possui uma plantação de 90 hectares da variedade conilon. Em 2007, os irmãos Lucas e Isaac Venturim assumiram a propriedade dos avós e, sem referência clara, decidiram adotar os padrões de qualidade dos cafeicultores de arábica. Essa iniciativa resultou em sucesso.

No ano de 2023, os irmãos alcançaram um marco significativo: um lote de café Venturim obteve 90 pontos no método de avaliação da Specialty Coffee Association, tornando-se o primeiro canéfora a receber certificação da Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA). O café produzido na fazenda é comercializado pela rede Santo Grão sob a denominação “0% Arábica”, com preço de R$ 45 por 200 gramas.

De acordo com Natália Braga, instrutora do Santo Grão, a experiência com um café canéfora de qualidade oferece uma familiaridade sensorial. Ela destaca que as características olfativas deste tipo de café são reconhecíveis. A familiaridade mencionada remete ao perfil sensorial único dos cafés canéfora, que, quando cultivados e processados adequadamente, resultam em bebidas robustas, com corpo intenso e baixa acidez. Diferentemente do arábica especial, o canéfora não apresenta notas frutadas, o que tende a agradar aos brasileiros habituados a cafés mais fortes.

Henrique Ortiz, fundador da microtorrefadora Catarina Coffee & Love, observa uma tendência semelhante entre os consumidores. Ele relata que, entre os frequentadores que se referem a cafés de torra clara como “chafé”, a aceitação do canéfora é imediata, sendo apreciado por seu perfil rústico e amadeirado. Ortiz não menciona se o café é arábica ou canéfora no cardápio, acreditando que isso faz com que mais pessoas se sintam dispostas a experimentar.

Vale ressaltar que não há diferença de preço entre os tipos de café. Espressos e coados são vendidos ao mesmo valor, independentemente de serem arábicas ou canéforas, o que evita a criação de uma hierarquia entre as duas espécies. Apesar de um certo preconceito entre profissionais do setor, como baristas e proprietários de cafeterias, Ortiz opta por revelar a origem do café apenas após a degustação, uma vez que muitos acabam surpreendidos positivamente.

O estigma associado ao canéfora é compreensível, dado que, desde a introdução dos cafés especiais no Brasil, o arábica dominou o mercado como sinônimo de qualidade, enquanto o canéfora era tratado como uma commodity, direcionada principalmente à indústria de cafés solúveis. O reconhecimento do canéfora como café especial depende agora de uma divulgação semelhante à que foi feita em torno do arábica.

As variedades canéfora, como robusta e conilon, provam ser adaptáveis a condições climáticas adversas e podem ser cultivadas em altitudes mais baixas. A produção de canéfora de alta qualidade tem sido fortalecida em duas principais regiões: Espírito Santo, onde predomina o conilon, e Rondônia, conhecida por suas robustas.

Recentemente, o preço das sacas de canéfora tem demonstrado uma valorização. Após uma rara ocorrência em setembro de 2024, onde a saca de canéfora alcançou um valor de R$ 1.421, superando a de arábica, hoje os preços se aproximaram, com o arábica cotando a R$ 2.542 e o canéfora a R$ 1.979.

Lucas Venturim se posiciona como um embaixador da espécie canéfora, relatando que novos mercados estão começando a apreciar suas qualidades. Durante participação na Specialty Coffee Expo, em Chicago, ele observou uma aceitação notável do canéfora entre os consumidores norte-americanos.

Um fator que pode favorecer a popularidade do canéfora é a sua alta concentração de cafeína, podendo chegar até quatro vezes mais em comparação ao arábica. Essa característica atrai não apenas aqueles que buscam um impulso energético, mas também estudantes e profissionais. As vendas da marca GetUp Coffee, pertencente à família Venturim, mostraram um aumento significativo, indicando uma crescente aceitação e potencial promissor para o canéfora no mercado.

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