Arqueólogos identificaram uma coleção de ferramentas ósseas no norte da Tanzânia, datadas de 1,5 milhão de anos, o que as torna as mais antigas conhecidas desse tipo, superando em um milhão de anos os achados anteriores. Embora ferramentas de pedra com datação de pelo menos 3,3 milhões de anos tenham sido descobertas, as ferramentas ósseas mais antigas previamente conhecidas estavam entre 250.000 e 500.000 anos e localizadas em sítios na Europa.
Os 27 fragmentos de ossos, provenientes em sua maioria de hipopótamos e elefantes, apresentam marcas de afiação e modelagem, possivelmente utilizando ferramentas de pedra. Alguns desses ossos chegam a medir quase 38 centímetros. Esses artefatos foram encontrados na Garganta de Olduvai, conhecida por sua relevância na história das ferramentas de pedra utilizadas por hominídeos primitivos.
As descobertas, relatadas em um estudo publicado na revista Nature, sugerem que os ancestrais humanos empregavam técnicas de fabricação de ferramentas de pedra para modelar ossos específicos de grandes mamíferos. Os pesquisadores interessados na cognitividade dos hominídeos acreditam que tal habilidade reflete um avanço significativo em suas capacidades de raciocínio abstrato, como a identificação de padrões e a realização de conexões.
A Garganta de Olduvai é uma área no Leste da África que contém evidências fundamentais sobre as origens e o uso de ferramentas entre ancestrais humanos. Reconhecida como Patrimônio Mundial da Unesco, essa localidade é valorizada por sua contribuição ao entendimento da evolução humana. Um dos co-autores do estudo expressou sua admiração pelas descobertas que ocorrem nesse local histórico, reiterando a importância dos trabalhos de arqueólogos renomados que ajudaram a moldar o campo.
Com uma linha do tempo que abrange de 2 milhões a 20.000 anos, a região já revelou restos de hominídeos como Homo habilis, Homo erectus e Homo sapiens pré-histórico. O registro arqueológico encontrado, além de ferramentas, também expõe avanços culturais e experiências na fabricação de instrumentos.
Durante a Idade Olduwan, nomeada em homenagem às ferramentas de pedra originadas na garganta, os seres humanos antigos produziam utensílios por meio da fragmentação de rochas, criando formas básicas entre 2,7 milhões e 1,5 milhão de anos. O chamado machado de mão surgiu há aproximadamente 1,7 milhão de anos durante a Idade Acheuliana, caracterizado por uma técnica de lascamento que exigia habilidades complexas.
As ferramentas ósseas da Garganta de Olduvai foram inicialmente encontradas durante escavações entre 2015 e 2022, em uma ravina específica da região. Investigadores se concentraram em um local que apresentou dentes de hominídeos durante pesquisas anteriores, o que levou à descoberta dos utensílios mais antigos feitos de ossos.
As ferramentas variavam em tamanho, dependendo do tipo de animal, sendo que as maiores eram feitas de ossos de elefante e as menores de hipopótamo. Os pesquisadores aplicaram técnicas de lascamento aos ossos, sugerindo que havia um conhecimento sistemático por parte dos hominídeos na manipulação de diferentes materiais.
Os autores do estudo apontam que essas ferramentas evidenciam um entendimento avançado na criação de utensílios, demonstrando que os ancestrais humanos eram capazes de transferir habilidades de fabricação de pedras para ossos, sugerindo um nível elevado de cognição.
Os achados de utensílios ósseos são raros no registro arqueológico devido à dificuldade de preservação de material orgânico. Apesar de ferramentas semelhantes terem sido encontradas esporadicamente na Europa e na Ásia, os 27 fragmentos identificados em Olduvai sugerem uma produção mais em massa.
Embora não existam evidências diretas sobre como essas ferramentas eram utilizadas, é provável que suas aplicações envolvessem a preparação de carcaças de animais para alimentação e a confecção de novos utensílios. Apesar da falta de identificação precisa da espécie que produziu essas ferramentas, há indícios de que Homo erectus e Paranthropus boisei habitavam a área.
Os arqueólogos acreditam que a produção de equipamentos a partir de ossos pode ter sido estimulada pela disponibilidade de carcaças de animais, especialmente durante períodos de migração. A escassez de ferramentas ósseas no registro arqueológico ressalta a importância de ampliar a pesquisa sobre artefatos feitos com diferentes materiais, a fim de melhor compreender o comportamento e a adaptabilidade dos hominídeos em tempos antigos.