A guerra comercial entre os Estados Unidos e a China apresenta oportunidades para o agronegócio brasileiro. O aumento das tarifas sobre produtos agrícolas, que impacta as exportações dos EUA, resulta em um realinhamento no mercado global de grãos e proteínas, beneficiando o Brasil como fornecedor alternativo.
Analistas de uma instituição financeira destacam que o Brasil tem capacidade para substituir uma parte significativa da produção americana, especialmente em soja, algodão e carne bovina. A China, atualmente, é responsável por cerca de 90% das importações de soja que consome, das quais quase 23% vêm dos Estados Unidos. Esse cenário também se aplica a outros produtos, como algodão e carne bovina, cujo impacto é estimado em 13% e 3%, respectivamente.
Com a implementação de uma tarifa adicional de 10% sobre produtos chineses pelo governo americano desde março, a China reagiu aumentando as tarifas de importação sobre uma gama de produtos agrícolas dos EUA. As novas taxas incluem acréscimos de 15% sobre aves, trigo, milho e algodão, além de 10% sobre carne bovina, suína, soja e laticínios, com validade a partir de 10 de março.
O cenário de tarifas elevadas pode resultar na diminuição das exportações agrícolas americanas para a China, levando à perda de competitividade dos produtores dos EUA. Em contrapartida, os fornecedores alternativos, particularmente o Brasil, poderão se beneficiar dessa mudança. Empresas do agronegócio brasileiro situadas no contexto mencionado, como SLC e BrasilAgro, são apontadas como as mais favorecidas.
Entretanto, o aumento na demanda externa pode levar os agricultores brasileiros a priorizar as exportações, beneficiando-se da valorização do dólar em relação ao real, o que pode impactar os fluxos comerciais globais e a dinâmica dos preços. Com a crescente necessidade de grãos na China e o aumento dos custos de ração para os produtores locais de proteína, há previsão de aumento nos preços para os consumidores brasileiros.
No que diz respeito à indústria de carne bovina, embora inicialmente haja perspectivas positivas para as exportações brasileiras para a China, um aumento na oferta de carne bovina nos EUA pode pressionar o mercado interno, resultando em preços mais baixos nos Estados Unidos e menos aumento de preços no Brasil. Assim, empresas como BRF e Seara podem enfrentar efeitos mistos.
Além disso, o aumento das tarifas para a carne suína e de aves pode abrir novas oportunidades, ainda que apenas uma pequena fração do consumo de carne suína e de frango na China tenha origem nos EUA. Isso significa que as empresas brasileiras poderão ter mais chances nesse mercado, apesar da competição.
Por fim, o impacto nos preços dos grãos poderá gerar pressões de custo para as indústrias frigoríficas brasileiras. Essa situação pode levar a um efeito compensatório, onde o impacto negativo sobre a base de custos neutralizaria os efeitos positivos nas exportações de carne suína e de frango.