Líderes europeus comprometeram-se a rearmar o continente durante conversas emergenciais, em resposta às ameaças dos Estados Unidos de revisitar uma longa trajetória de garantias de segurança, especialmente em meio à guerra da Rússia na Ucrânia. Desde sua posse em janeiro, o presidente dos EUA provocou mudanças significativas nas relações transatlânticas, suspendendo a ajuda militar e o compartilhamento de inteligência com a Ucrânia, além de questionar a proteção aos aliados da NATO em caso de ataque. Com a Rússia sendo considerada uma “ameaça existencial” para a Europa, o continente enfrenta o desafio de preparar-se para um eventual conflito sem o respaldo norte-americano.
Analistas afirmam que a NATO pode sobreviver sem o suporte dos Estados Unidos, enquanto o presidente da China critica o retorno à “lei da selva” sob a administração Trump, e a Rússia manifesta a possibilidade de responder aos planos de “militarização” da União Europeia. Durante uma reunião em Bruxelas, líderes da União Europeia enfatizaram a necessidade de ouvir as preocupações da Ucrânia e da Europa nas discussões de paz, contando com a presença do presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky. Ele também anunciou uma visita à Arábia Saudita na semana seguinte para discutir um plano preliminar de cessar-fogo antes de futuras conversas com Washington.
Em uma sessão extraordinária do Conselho Europeu, foram delineados planos que podem destinar bilhões de euros para segurança e aumento do orçamento de defesa da Europa, além de oferecer suporte à Ucrânia. As propostas discutidas incluem mobilizar até 800 bilhões de euros para fortalecer a defesa europeia, com uma parte do plano disponibilizando até 150 bilhões de euros em empréstimos para os países membros. A presidente da Comissão Europeia, Ursula Von der Leyen, caracterizou esse momento como decisivo para a Europa, anunciando a elaboração de propostas legais que serão analisadas em uma reunião subsequente.
Macron, presidente da França, afirmou que a UE fornecerá mais de 33 bilhões de dólares à Ucrânia, financiados por ativos russos. De acordo com os líderes, a agressão da Rússia contra a Ucrânia impõe um “desafio existencial” à União Europeia, destacando a necessidade do continente de tornar-se mais autônomo e responsável por sua própria defesa em resposta a ameaças imediatas e futuras.
Uma declaração resultante de uma cúpula da NATO na capital americana confirmou que “a Rússia representa a ameaça mais significativa e direta à segurança da aliança”. No entanto, as declarações do presidente Trump, que novamente insinuou que os EUA poderiam reconsiderar seus compromissos com a aliança, geraram preocupação sobre a segurança da Europa. Trump ressaltou que, em sua visão, se os países membros não aumentarem seus gastos em defesa, ele não se sentiría compelido a protegê-los.
O princípio fundamental do Artigo 5 do Tratado do Atlântico Norte, que estabelece uma defesa coletiva entre os membros, foi colocado em questão. As críticas à NATO por parte da administração Trump estão trazendo incerteza, especialmente com as mudanças na postura americana em relação à guerra na Ucrânia que podem indicar um alinhamento inadvertido com a Rússia.
Enquanto os líderes europeus reiteravam seu apoio à Ucrânia, Von der Leyen sublinhou a importância da participação europeia em acordos de paz. Entre os 27 líderes presentes em Bruxelas, a maioria assinou um texto convidando a inclusão da Ucrânia nas negociações de paz, com exceção do primeiro-ministro da Hungria. Foi proposto um plano de cessar-fogo de um mês que poderia facilitar um tratado mais abrangente, embora Macron tenha advertido sobre a necessidade de evitar um cessar-fogo apressado.
Zelensky manifestou que está preparando “propostas práticas” para pôr fim ao conflito, com ênfase em um cessar-fogo que interrompa os ataques da Rússia. Ele se reunirá com o príncipe herdeiro da Arábia Saudita na próxima semana, enquanto o governo britânico se mostra disposto a ajudar na manutenção de qualquer acordo alcançado entre Kiev e Moscou. Não obstante, a oposição russa ao cessar-fogo e a preocupação quanto à normalização das relações entre Rússia e EUA continuam a influenciar a dinâmica do conflito.
O enviado especial da China expressou preocupação com a atitude dos EUA em relação à Europa, sugerindo que este pode ser um momento de reflexão sobre políticas anteriores em relação à China.