O desfile de inverno 2025 da Valentino ocorreu neste domingo em um ambiente projetado para simular um grande banheiro público, incluindo efeitos sonoros de descarga e cenários com pessoas se olhando no espelho e pés aparecendo por baixo das portas.
Durante a apresentação, os modelos entram e saem das cabines sem seguir uma ordem específica, a maioria usando faixas ou toucas que remetem à estética de uma balaclava. A trilha sonora, composta por música eletrônica, intensifica o ambiente, com luzes piscando de acordo com a batida do techno. A nova coleção, sob a direção criativa de Alessandro Michele, exibe uma clara influência de brechó.
Os looks apresentados incluem bodies usados sem fechamento na parte inferior, além de lingeries acetinadas ou rendadas, meias-calças e roupas de segunda pele. Transparências e peças em tons que se assemelham à pele dos modelos criam uma ilusão de nudez.
Os vestidos e bustiês apresentam drapeados e babados frontais, fazendo clara alusão às criações do fundador Valentino Garavani. A alfaiataria exibe um estilo retrô, com paletós alongados e calças de boca larga. A estética da coleção remete às décadas de 1970 e 1980, incorporando casacos de pele e jeans.
A coleção também mantém a mistura característica de Michele, unindo elementos esportivos, como tênis e tricô com zíper frontal, a produções mais elaboradas. Vestidos bordados em estilo old Hollywood coexistem com conjuntos que lembram o new wave e o punk. Tailleurs e modelos com peplum se alternam com camisolas românticas e vestidos de debutantes da década de 80.
Uma camiseta exibida durante o desfile traz a inscrição “Apolo e Dionísio”, fazendo referência a deuses da mitologia greco-romana com características opostas. A escolha do banheiro como cenário é provocativa e sugere uma reflexão sobre a intimidade em espaços coletivos, onde momentos privados podem ocorrer, como retocar a maquiagem ou até mesmo encontros inesperados.
A proposta do banheiro simboliza um local de isolamento e segurança, refletindo a ideia de gênero de forma binária. Para Alessandro Michele, isso é significativo, considerando sua defesa pela moda que flui em um espectro de gênero mais amplo.
Em um comunicado à imprensa, Michele discute como esse ambiente ajuda a abordar o conceito de intimidade. Ele intitula a coleção de “O Metateatro das Intimidades”, expressando seu interesse sobre como a sociedade associa a intimidade à autenticidade, contrastando isso com uma aparência superficial.
O estilista acredita que tudo se resume a uma performance contínua, referindo-se a Dionísio como o deus da festa. Para ele, a aparência externa é tão relevante quanto a interior, exaltando a pele como uma extensão essencial de quem somos.
Embora a coleta de inverno de 2025 traga à tona essas ideias, a manifestação concreta delas parece mais presente no conceito do que nas roupas em si. As vestimentas ficam cobertas por camadas de tecidos, referências e mensagens, sugerindo que, embora a fantasia tenha seu lugar, o maximalismo pode acabar derivando mais para a ocultação do que para a revelação de identidades pessoais.