Neste ano, o Museu do Louvre, localizado em Paris, inaugura sua primeira exposição voltada para o tema da moda em mais de 200 anos de história. Intitulada Louvre Couture, a exposição marca um momento histórico para as interações entre arte e moda, situando-se próxima a algumas das mais renomadas marcas de alta costura do mundo. Com um acervo que reúne 100 peças de vestuário de 45 marcas distintas, a mostra vai além de uma simples análise da história da moda, promovendo uma imersão nas influências artísticas que inspiraram os criadores. A coleção permanente do Louvre conta com mais de 500 mil obras, embora apenas 35 mil estejam em exibição. É comum que os visitantes concentrem sua atenção em peças icônicas, como a Mona Lisa, deixando de lado muitos outros tesouros expostos nas galerias.
Diferentemente da maioria das exposições, que costumam organizar as obras de forma linear em galerias específicas, Louvre Couture propõe uma experiência de exploração que inclui a coleção de artes decorativas do museu, abrangendo tapeçarias, porcelanas e móveis desde a Idade Média até o século XIX. A exposição não segue uma sequência cronológica, oferecendo um percurso não-linear pelos 9 mil metros quadrados dos salões do museu. Segundo Olivier Gabet, o curador da mostra, as criações decorativas, que possuem um alto nível de ornamentação, podem ser vistas como ‘intimidadoras’ para um público mais jovem. A moda, por outro lado, é considerada ‘universal e acessível’, funcionando como uma ponte que conecta o público à rica cultura representada no Louvre. Tal abordagem inovadora e o diálogo com a moda podem atrair novos visitantes, ampliando o interesse pelo museu. Além da mera relação visual entre arte e moda, a exposição revela como a arte, ao longo da história, influencia os estilistas.
Um exemplo dessa interconexão é o vestido da coleção Outono/Inverno 2018-2019 da marca Dior, criado por Maria Grazia Chiuri. Este vestido de seda, que conta com uma estampa que remete às tapeçarias medievais do século XV, representa uma homenagem à estética millefleurs, caracterizada por motivos florais e vegetais. A relação da marca Dior com o Museu do Louvre se estende além de inspirações artísticas, uma vez que seu fundador, Christian Dior, tinha grande admiração pela arte do século XV e, em 2020, a marca promoveu uma parceria com o museu para auxiliar na restauração do Jardim de Tuileries, localizado em sua frente.
Outro exemplo é o vestido da coleção Outono/Inverno 2018-2019 da estilista holandesa Iris van Herpen, intitulado ‘Syntopia’. Esta coleção explora a fusão de elementos orgânicos e inorgânicos, e um dos vestidos evoca a cronofotografia, uma técnica do século XIX que captura o movimento no tempo. A leveza do vestido remete ao voo de uma ave, contrastando com a opulência do salão do museu, decorado com pesadas cortinas e elegantes candelabros típicos do Segundo Império francês. A noção de movimento é igualmente refletida pelos espelhos presentes no ambiente, que criam uma ilusão de multiplicidade. A estilista expressa que as obras do Louvre promovem uma jornada temporal, revelando emoções humanas incorporadas nas peças artísticas.
Na exposição, peças são também identificadas pelo número correspondente às marcas que representam. Por exemplo, o vestido número 30 da Dior é uma referência à primeira loja da marca, localizada na 30 Avenue Montaigne, enquanto o traje número 5 da Chanel remete ao famoso Chanel No. 5. No dia 4 de março, o Louvre organizou o Le Grand Dîner du Louvre, um jantar de gala em comemoração à exposição, com a finalidade de arrecadar fundos para a preservação de sua coleção. O evento contou com a presença de várias personalidades proeminentes do mundo da moda e arrecadou mais de 1 milhão de euros, com 30 mesas vendidas.
A exposição Louvre Couture vai além de uma mera comparação entre moda e arte, oferecendo uma experiência que ressalta a criatividade nas artes decorativas e na moda. Assim, promove-se uma apreciação contemporânea das obras de arte clássicas e tradicionais, onde texturas, brilho e glamour convergem. A declaração de Olivier Gabet, de que “museus são casas de conhecimento, mas também lugares de prazer e diversão”, sintetiza a essência desta exposição. Com início no dia 24 de janeiro, a mostra permanecerá em cartaz até 21 de julho de 2025.