Nos últimos dias, as quedas observadas no mercado financeiro dos Estados Unidos, com o pregão de 10 de março marcando o pior desempenho do ano, geraram questionamentos entre analistas e economistas sobre a possível diminuição do excepcionalismo americano. A análise realizada pelos especialistas do Citi sugere que, pelo menos neste momento, essa questão está em suspenso. Em decorrência disso, a recomendação para o mercado de ações foi alterada de compra para neutro, evidenciando os sinais de baixa que emergem tanto do mercado quanto da economia dos Estados Unidos.
Conforme aponta o relatório, ainda não há um consenso de que o excepcionalismo americano no que diz respeito às ações se esgotou. Entretanto, há a expectativa de que as notícias relacionadas à economia dos Estados Unidos revelem um desempenho inferior em comparação ao resto do mundo nos próximos meses. Assim, pelo menos em uma abordagem tática, a expectativa é de que esse excepcionalismo não retorne.
Entre os indicadores que estão criando preocupação está o índice S&P 500, que está operando abaixo da média móvel de 200 dias, assim como o baixo desempenho das principais ações do mercado americano, que apresentaram resultados negativos por cinco dias consecutivos. No pregão de 10 de março, o Nasdaq registrou a sua pior performance desde setembro de 2022, com uma queda de 4%, enquanto o S&P 500 registrou um recuo de 2,7%, o maior do ano até o momento. Essa situação se soma a sinais de desaceleração econômica nos Estados Unidos, corroborados por expectativas de um enfraquecimento do mercado de trabalho e os impactos dos cortes de gastos promovidos pela administração.
A decisão do Citi de revisar sua recomendação interrompe um ciclo prolongado de otimismo em relação ao mercado norte-americano, onde a recomendação anterior de compra foi emitida em outubro de 2023. Outra instituição, o HSBC, também revisou a sua recomendação para neutro, refletindo um ambiente crescente de cautela nos mercados, especialmente em relação às consequências da agenda econômica do governo atual, que inclui tarifas e cortes de gastos em um contexto de desaceleração econômica.
Desde o início de 2023, as principais empresas nos Estados Unidos têm enfrentado significativas desvalorizações, à medida que o otimismo gerado pela eleição se transforma em cautela. Dados da consultoria Elos Ayta indicam que, entre 20 de janeiro e 10 de março, o valor de mercado das empresas americanas perdeu cerca de US$ 4,3 trilhões, quantia que corresponde a 6,2 vezes a capitalização total das empresas listadas na B3, que está estimada em US$ 699 bilhões. Somente no dia 10 de março, as perdas foram de aproximadamente US$ 1,6 trilhão, equivalente a 2,3 vezes o valor da bolsa brasileira.
Embora manifestem cautela em relação ao mercado dos Estados Unidos, os analistas do Citi demonstram otimismo em relação ao mercado chinês, elevando sua recomendação de neutro para compra após um período de cautela em virtude das tarifas de importação impostas pelos Estados Unidos. A análise sugere que, desconsiderando as tarifas, o mercado chinês apresenta boas oportunidades, especialmente no setor de tecnologia, onde a China está mostrando capacidade de competir com os Estados Unidos em questões relacionadas à inteligência artificial.
A importância da inteligência artificial deve se intensificar na China, especialmente considerando que o presidente Xi Jinping se mostra inclinado a impulsionar esse setor, reconhecendo a relevância da tecnologia na concorrência geopolítica com os EUA. As empresas chinesas de tecnologia ainda se mostram relativamente acessíveis em comparação a ativos globais de IA, mesmo após um recente período de valorização.