Desde a fusão entre Arezzo&Co e Grupo Soma, que resultou na formação da Azzas 2154, o mercado tem levantado questões sobre as sinergias e os desafios operacionais enfrentados pelo novo grupo. Recentemente divulgado, o desempenho financeiro do conglomerado para o exercício de 2024 traz alguns esclarecimentos. A receita mostrou crescimento, enquanto a margem enfrentou compressão e o lucro não apresentou um avanço significativo.
No quarto trimestre, a receita bruta alcançou R$ 4,2 bilhões, refletindo um aumento de 15,1% em comparação com o mesmo período do ano anterior, embora esta seja uma análise pro forma, considerando que as operações anteriormente estavam segregadas. Para 2024, a receita bruta totalizou R$ 14,2 bilhões, apresentando uma alta de 10,8% em relação ao ano precedente.
Apesar do aumento na receita, a Azzas reportou uma pressão sobre suas margens. A margem bruta recuou 0,6 ponto percentual em um ano, situando-se em 55,5%, enquanto a margem EBITDA diminuiu de 16,6% para 15,3%. No final do ano passado, analistas projetaram tanto a elevação das margens financeiras quanto um aumento nas despesas para o agrupamento de 2024. A receita superou as expectativas, mas a margem EBITDA ficou aquém das projeções, apresentando uma diferença de um ponto percentual.
A pressão sobre a margem bruta é atribuída, principalmente, à reestruturação do segmento masculino, que incluiu limpeza de estoques e descontinuação de marcas. Segundo a direção da empresa, essa decisão foi necessária e seus efeitos são considerados de curto prazo. No segundo semestre, o grupo descontinuou marcas como Alme, Dzarm, Reversa, Simples e Troc, e a Baw foi revendida aos fundadores.
Essa reavaliação do portfólio resultou em um custo de R$ 243 milhões no quarto trimestre, decorrente, principalmente, de multas contratuais e ajustes contábeis das marcas descontinuadas. A companhia também está investindo em novos produtos que, embora representem despesas atualmente, devem gerar receitas substantivas no futuro.
O segmento de calçados, que representa o núcleo da Arezzo&Co, teve um crescimento de 4,5%, sendo um ponto percentual superior ao trimestre anterior, mas inferior ao crescimento observado nas demais unidades de negócio que apresentaram aumentos de dois dígitos. A performance menos favorável de marcas como Anacapri e Schutz, que está passando por um processo de reestruturação, impactou o desempenho da unidade de calçados.
Atualmente, a participação dos calçados na receita do grupo caiu de 35% para 32% em um ano, com esse percentual sendo absorvido pelas categorias de vestuário feminino, que subiu de 30% para 32%, e masculino, que cresceu de 14% para 15%. No que diz respeito ao lucro líquido recorrente, este totalizou R$ 169 milhões no quarto trimestre, apresentando uma queda de 8% sobre o mesmo período do ano anterior, enquanto no acumulado do ano, o lucro líquido recorrente alcançou R$ 591 milhões, o que representa um aumento de 2,7% em comparação a 2023.
Uma preocupação central da Azzas no quarto trimestre estava relacionada ao desempenho da unidade de vestuário masculino, composta pela marca Reserva, que obteve um crescimento de 20,7% nesse período. Após a fusão, ocorreu a saída de Rony Meisler, fundador da Reserva, com a transição de liderança para Ruy Kameyama sendo cuidadosamente planejada para minimizar impactos.
Essa mudança de gestão acarretou custos adicionais para a Azzas devido à duplicidade temporária de remuneração durante a transição, que se estendeu até dezembro. A empresa também direcionou investimentos significativos em marketing para aprimorar o relacionamento e a experiência do cliente com todas as suas marcas, resultando em um aumento de 15,6% nas despesas recorrentes no quarto trimestre, que totalizaram 40,6% da receita líquida.
A unidade de vestuário feminino, que abriga marcas como Farm, Animale e NV, obteve um crescimento de 22,9% no quarto trimestre, com receita total de R$ 1,36 bilhão. A Farm, em particular, está se destacando no mercado internacional, apontando um crescimento anual composto de 20%.
Para 2025, a marca planeja expandir a linha Farm Etc, que inclui acessórios variados, e tem como objetivo inaugurar quatro novas lojas flagship até o meio do ano, com a possibilidade de aumentar esse número para oito ainda em 2025. No médio prazo, a marca também planeja uma expansão para a América Latina.
Nos últimos seis meses, a unidade de vestuário democrático, que inclui a Hering, passou por uma reestruturação que resultou em um crescimento significativo de 17,6% no trimestre, o maior já registrado pela marca, impulsionado pela recuperação das vendas em todos os canais, especialmente no segmento de multimarcas. A Hering também conseguiu ampliar sua presença nas regiões Norte e Nordeste, além de planejar a abertura de 28 novas megastores, totalizando 80 unidades até o final do ano.
Adicionalmente, a unidade fabril da Hering já começou a produzir para a marca Reserva, com a expectativa de que outras marcas, como a Farm, também passem a integrar essa produção. A ação AZZA3, da Azzas 2154, apresentou uma queda de 9,3% no ano até o momento, enquanto a empresa possui um valor de mercado estimado em R$ 5,5 bilhões.