14 março 2025
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Como a Guerra Comercial dos EUA Impulsiona as Exportações de Soja do Brasil

Os traders de commodities de alta experiência reconhecem que as intervenções governamentais em mercados livres podem gerar novas oportunidades. Atualmente, uma clara exemplificação desse fenômeno está a ocorrer com a recente imposição de tarifas pela China sobre a soja e outros produtos agrícolas. Essas tarifas, que tiveram início na segunda-feira (10), foram aplicadas pelo principal comprador global de soja, a China, em relação ao segundo maior exportador, os Estados Unidos.

Os mercados globais de soja possuem características específicas, uma vez que apenas quatro países exportam em grande volume: Brasil, Estados Unidos, Paraguai e Argentina. Juntos, esses países representam em torno de 92% das exportações mundiais de soja, demonstrando uma concentração significativa. Brasil e Estados Unidos, de forma conjunta, respondem por cerca de 85% das exportações globais desse grão.

Em termos de importação, existe uma diversidade de compradores de soja, mas nenhum se iguala à China. Consta que os chineses são responsáveis por quase 60% do total das exportações de soja globalmente, de acordo com relatórios do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos. Isso ilustra a alta demanda da China, que recorre a praticamente todos os grandes exportadores do mundo. A expectativa é de que o Brasil e os Estados Unidos continuem a ser os fornecedores primários da China, independentemente do impacto das tarifas comerciais.

A demanda pela soja faz com que a China, em algum momento, tenha que recorrer a compras dos Estados Unidos. Essa dinâmica gera oportunidades para traders habilidosos em commodities, lembrando que situações semelhantes ocorreram em 2018 e 2019 durante a primeira guerra comercial. Naquele período, os compradores chineses, em resposta ao aumento das tarifas, optaram por adquirir soja do Brasil, tornando-o sua principal fonte de suprimento. No entanto, à medida que os estoques brasileiros diminuíram, a China voltou a comprar dos Estados Unidos.

Durante essa fase, os preços da soja nos Estados Unidos refletiram a situação do mercado. Quando a guerra comercial se intensificou e a China se afastou da soja americana, os preços diminuíram até aproximadamente US$ 9 por bushel. Após um retorno consistente do interesse chinês em 2020, os preços começaram a subir, alcançando US$ 16 por bushel em 2021.

No cenário atual, os preços da soja nos Estados Unidos giram em torno de US$ 10 por bushel, cerca de 10% acima do seu custo de produção. As novas tarifas impostas pela China sobre a soja estadunidense estão afetando as decisões de compra, fazendo com que os compradores chineses voltem sua atenção para o Brasil, considerado uma fonte de suprimento mais econômica. Isso poderá levar os preços da soja nos Estados Unidos a se aproximar de seus custos de produção.

Atualmente, os vendedores de soja nos Estados Unidos podem conseguir algum lucro, mas os agricultores enfrentarão altos níveis de pressão devido às margens estreitas, dependendo de possíveis programas de assistência governamental. A situação pode se agravar se o Brasil não tiver soja suficiente para atender à demanda da China, forçando-a a buscar suprimentos nos Estados Unidos. Espera-se que os preços da soja sigam sua tendência habitual, flutuando em torno de US$ 9 por bushel até que novas compras e outras forças do mercado reajustem os preços.

Historicamente, os preços das commodities exibem limites de queda bastante restritos ao atingir o ponto de equilíbrio em seus custos de produção. Esse padrão se intensifica em situações em que intervenções tarifárias estão em jogo; nesse contexto, as tarifas aceleram a queda dos preços até o nível de equilíbrio da commodity afetada. No entanto, a demanda pela soja dos Estados Unidos, embora adiada, não será eliminada completamente.

É esperado que os preços da soja nos Estados Unidos reduzam-se em direção ao custo de produção de US$ 9 por bushel em resposta às tarifas chinesas. Contudo, outros compradores não chineses poderão ocupar o espaço no mercado, atendendo sua demanda através dos suprimentos estadunidenses, o que poderá oferecer suporte aos preços. Se o Brasil se esgotar em suas vendas para a China, é provável que os chineses voltem a comprar dos Estados Unidos. Esse comportamento já foi observado anteriormente, e existem razões para acreditar que a dinâmica de mercado se repetirá novamente.

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