14 março 2025
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Aos 95 Anos, Fernanda Montenegro Exibe Sua Força em Viagens Incríveis

Após uma caminhada habitual pelas ruas de Copacabana, no Rio de Janeiro, uma mulher octogenária chamada dona Nina se acomoda em sua cozinha para beber um café e saborear biscoitos. No entanto, a tranquilidade é bruscamente interrompida por um tiroteio próximo à sua residência. Posteriormente, novos disparos a forçam a se jogar no chão de sua sala, tomada pelo medo. Na noite seguinte, uma bala perfura a parede do seu apartamento de um quarto, localizado em frente à Ladeira dos Tabajaras, uma área onde o tráfico e o consumo de drogas ocorrem abertamente, com a conivência de policiais. A vida de Joana Zeferino da Paz (1925-2023), uma residente de Alagoas que foi fundamental na desarticulação de uma organização criminosa e na prisão de trinta indivíduos envolvidos, inspirou o filme “Vitória”, atualmente em cartaz nos cinemas. A personagem é interpretada por Fernanda Montenegro, que aos 95 anos demonstra mais uma vez sua força, vivendo a história de uma idosa solitária que se transforma em uma guerrilheira contra traficantes armados e policiais corruptos, mantendo seu bom humor.

A trama real e impactante que serve de base para “Vitória” enfrentou diversos obstáculos até chegar às telonas. Em abril de 2018, o diretor Breno Silveira anunciou a produção, baseada nas investigações realizadas por um repórter de um jornal local, já com Fernanda escalada para o papel principal. Contudo, as filmagens tiveram que ser interrompidas devido à pandemia. Quatro anos depois, Fernanda sofreu uma fratura em três costelas em um acidente doméstico, afetando mais uma vez o cronograma das filmagens. Uma tragédia maior ocorreu quando Silveira faleceu de um infarto fulminante no primeiro dia de gravações. Andrucha Waddington, amigo do diretor e genro de Fernanda, assumiu a direção a pedido da esposa de Breno, Paula Fiuza, que também era roteirista do filme.

Apesar dos inúmeros desafios enfrentados durante a produção, a atuação de sua protagonista foi fundamental para a concretização do projeto. Assim como em seu trabalho anterior, “Ainda Estou Aqui”, onde interpretou uma versão idosa da mesma Eunice Paiva que lhe rendeu uma indicação ao Oscar para sua filha, Fernanda demonstra no novo filme sua disposição para retratar a velhice em todas as suas complexidades, abrangendo desde as fragilidades físicas e mentais até a coragem muitas vezes extraordinária que acompanha essa fase da vida. A personagem de dona Nina em “Vitória” ilustra essa dualidade: cansada de não obter resposta das autoridades, ela decide adquirir uma câmera para registrar as atividades dos traficantes e policiais corruptos. Apesar de suas tentativas de levar a situações à polícia, a questão só ganha atenção quando um repórter percebe o potencial para uma matéria significativa.

No caso real de Joana da Paz, levou-se dois anos para que sua história fosse divulgada, devido ao risco à sua segurança. O problema foi resolvido quando ela foi inserida em um programa de proteção a testemunhas, passando a ser chamada de Vitória na imprensa. Essa situação perdurou até sua morte em 2023, aos 97 anos, quando sua verdadeira identidade foi revelada. Em debates nas redes sociais, houve críticas sobre a escolha de Fernanda para o papel, visto que Joana era negra. No entanto, vale ressaltar que, desde o início, a idosa expressou o desejo de ser interpretada por Fernanda. Para equilibrar essa representação, foi escalado um ator negro para viver Fábio Gusmão, o repórter que impulsiona a narrativa, realçando a química entre ele e a atriz.

Fernanda Montenegro continua a mostrar seu vigor. Durante a pré-estreia de “Vitória” no Theatro Municipal de São Paulo, a atriz deixou entrever que pode não fazer mais filmes, considerando que cinema exige um preparo físico considerável. No entanto, ela sinaliza que continuará a explorar outras formas de atuação. Recentemente, realizou um recital na Academia Brasileira de Letras, cujos ingressos se esgotaram rapidamente, repetindo o sucesso de suas leituras de Simone de Beauvoir. Em breve, poderá ser vista em uma instalação no Masp intitulada “Um Maravilhoso Emaranhado”, onde interpreta a arquiteta Lina Bo Bardi ao lado de sua filha, Fernanda Torres. Além disso, ainda neste ano, está escalada para o longa “Velhos Bandidos”, no qual atuará como a mente por trás de um assalto, sob a direção de seu filho, Cláudio Torres. A trajetória de Fernanda é marcada pela resistência e continuidade.

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