16 março 2025
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Até Quando? O Caso Luighi Revela um Alerta Urgente sobre…

Mais de dez anos se passaram entre dois eventos que marcaram a história do futebol de forma lamentável. Em agosto de 2014, o goleiro Aranha, do Santos, interrompeu uma partida contra o Grêmio, em Porto Alegre, durante a Copa do Brasil, para informar ao árbitro que havia escutado gritos racistas vindos das arquibancadas da torcida tricolor. Na semana passada, em um confronto entre Cerro Porteño e Palmeiras, válido pela Libertadores Sub-20 no Paraguai, o jogador Luighi, do Palmeiras, foi alvo de insultos racistas por parte de torcedores paraguaios, que o ofenderam com comentários relacionados à sua cor de pele e ainda o agrediram fisicamente, levando-o às lágrimas ao deixar o campo.

Em ambos os casos, as punições foram aplicadas não apenas aos torcedores responsáveis, mas também às instituições dos agressores. O Grêmio foi eliminado do torneio, enquanto o Cerro Porteño foi multado em 50 mil dólares, teve portões fechados para o público nos seus jogos e foi obrigado a implementar campanhas de combate ao racismo. No entanto, essas medidas foram consideradas insuficientes diante da gravidade dos atos cometidos. Em uma década, a resposta ao problema do racismo no esporte parece ter sido mínima, com a discriminação racial continuando a assolar tanto o futebol quanto a sociedade em geral. Essa situação levanta uma questão persistente: até quando essa realidade continuará?

A emoção do jogador Luighi, visivelmente abalado após o jogo, destaca a gravidade da situação e a necessidade de que esse tipo de situação não seja esquecido. Ao se dirigir aos repórteres, Lutghí expressou sua frustração: “Vocês não vão me perguntar sobre o ato de racismo que ocorreu hoje comigo? É sério? Até quando vamos passar por isso?”. Apesar de dirigir sua indignação aos jornalistas, sua mensagem era, na verdade, um apelo à sociedade, que muitas vezes parece ignorar o que ocorre dentro dos estádios. Remeteu de certa forma à postura do treinador Carlo Ancelotti, que, em maio de 2023, ao se recusar a comentar uma partida, decidiu focar no caso de racismo que Vinicius Jr. enfrentou durante um jogo.

A atenção precisa ser redirecionada: discutir racismo é mais importante do que discutir os resultados de partidas. As respostas institucionais foram tímidas e insuficientes. O Palmeiras emitiu uma nota de apoio ao jogador, e os colegas de equipe fizeram manifestações nas redes sociais. Clubes rivais também se pronunciaram e a Conmebol demonstrou sua insatisfação, anunciando que tomaria medidas disciplinares, embora detalhes específicos não tenham sido divulgados. De acordo com o antropólogo Thales Vieira, do Observatório da Branquitude, é inadmissível que um atleta precise deixar o campo em lágrimas devido à cor de sua pele. Ele defende que a responsabilidade deve ser atribuída, que os clubes precisam ser responsabilizados, e que a Conmebol deve agir de acordo com a gravidade da ofensa.

É essencial abordar o racismo com a mesma seriedade e rigor usados no combate à violência dos hooligans na Inglaterra durante os anos 1980 e 1990, que resultaram em banimentos e prisões para torcedores violentos. Ações devem ocorrer dentro do quadro da Justiça, garantindo o direito à defesa. No entanto, é imperativo que haja uma resposta firme a esse problema. A presidente do Palmeiras, Leila Pereira, destacou publicamente a necessidade de uma abordagem severa, afirmando que mudanças não acontecem apenas por boa vontade e que conversas não são suficientes para transformar culturas.

Esse aspecto é crucial. Embora o futebol possa ser um terreno fértil para comportamentos abusivos, é importante enxergá-lo como um reflexo do que ocorre na sociedade, influenciado por uma cultura de conivência e corporativismo. O organizador Neilton Ferreira Júnior, que aborda o tema do racismo no esporte no Brasil, afirma que as direções administrativas da Conmebol e de outras entidades estão desconectadas das questões políticas que envolvem discriminação e violência racial. O futebol tem a capacidade de ser pioneiro na erradicação de uma cultura nociva que ainda ressoa nas arquibancadas. A pergunta de Luighi deve ser repetida e lembrada: “É sério? Até quando?”.

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