É amplamente reconhecido que Mercúrio é o planeta mais próximo do Sol, orbitando a apenas 0,387 unidades astronômicas (UAs), o que equivale a aproximadamente 58 milhões de quilômetros. Apesar dessa proximidade, o planeta não é o mais aquecido do Sistema Solar. Para esclarecer a razão disso, é importante compreender algumas particularidades do planeta.
A unidade astronômica (UA) é descrita como a distância média entre a Terra e o Sol, estabelecendo que a Terra está a 1 UA da estrela central e Netuno está a 30 UAs. Essa comparação ajuda a situar Mercúrio em relação ao nosso sistema solar.
A astrônoma Maria Vincent, da Universidade do Havaí, destaca que a percepção de que Mercúrio se mantém quente o tempo todo por causa de sua proximidade ao Sol é equivocada. Segundo ela, “o lado de Mercúrio voltado para o Sol é extremamente quente, enquanto o lado noturno é bastante frio”, o que se deve à ausência de uma atmosfera que poderia equilibrar as temperaturas.
As temperaturas em Mercúrio são notoriamente extremas, variando de -184º C, que é duas vezes mais frio do que as temperaturas registradas em qualquer lugar da Terra, até impressionantes 427º C. Além de suas temperaturas extremas, o planeta é caracterizado por crateras que dominam sua superfície. Algumas dessas crateras, especialmente perto dos polos, são tão profundas que não recebem luz solar direta há aproximadamente 4 bilhões de anos.
Adicionalmente, Mercúrio possui dias longos e quentes, já que cada dia no planeta equivale a 176 dias terrestres devido à sua rotação lenta. Dessa forma, algumas regiões de Mercúrio podem ter o Sol visível por várias semanas. Sua órbita em torno do Sol é relativamente rápida, levando apenas 1,5 dia mercuriano ou 88 dias terrestres para completar uma volta.
As condições climáticas extremas em Mercúrio inviabilizam a presença de água líquida, um componente fundamental para a habitabilidade, conforme afirmado por especialistas. A atmosfera do planeta é extremamente rarefeita e, portanto, não há vento atmosférico significativo; o que existe é o vento solar, um fluxo de elétrons e prótons que interagem com a superfície do planeta.
Por outro lado, a questão de qual é o planeta mais quente do Sistema Solar é frequentemente mal interpretada. Embora a Terra tenha registrado recordes de temperatura em decorrência do aquecimento global, não é o planeta mais quente. Esse título pertence a Vênus, que, apesar de estar mais distante do Sol do que Mercúrio, abriga uma atmosfera densa que retém o calor, elevando as temperaturas superficiais a até 482° C. A distância média entre Vênus e o Sol é 0,72 UAs, com variações em sua órbita elíptica.
Para entender melhor por que Vênus é tão aquecido, é pertinente comparar a composição atmosférica dos dois planetas. O dióxido de carbono presente na exosfera de Vênus acumula o calor, o que resulta em temperaturas indesejáveis. Com uma quantidade de CO2 na atmosfera cerca de duas mil vezes maior do que na Terra, fica compreensível que as temperaturas em Vênus superem as de um forno convencional.
Por fim, a missão BepiColombo, uma colaboração entre as agências espaciais europeia (ESA) e japonesa (JAXA), foi lançada em outubro de 2018 e está programada para alcançar a órbita de Mercúrio em dezembro de 2025. Esta missão promete oferecer novos insights sobre o planeta menos explorado do Sistema Solar, além de coletar dados detalhados sobre sua temperatura, especialmente em áreas que até então têm sido desafiadoras de estudar.