A reforma implementada pela administração dos Estados Unidos sob a liderança de Donald Trump resultou na demissão de dezenas de milhares de funcionários em Washington, resultando em uma possível erosão dos gastos do consumidor, um fator crucial para a economia da capital. Economistas da Moody’s alertam que a região pode enfrentar uma recessão ainda neste ano.
Tyler Wolf, um advogado trabalhista de 32 anos, foi demitido recentemente do seu cargo no Departamento de Saúde e Serviços Humanos. Ele havia planejado comprar uma casa e se mudar com sua namorada, mas agora está reconsiderando seus planos e se preparando para retornar à casa dos pais na Virgínia, cortando gastos para se ajustar a sua nova situação financeira. Wolf expressa preocupação com o aumento das exigências de experiência nas ofertas de emprego, o que complica sua busca por uma nova posição.
Nos Estados Unidos, existem aproximadamente 2,4 milhões de trabalhadores federais, excluindo militares e funcionários do Serviço Postal, com 17% residindo na área metropolitana de Washington. Desde o início da administração Trump, pelo menos 103.452 trabalhadores foram demitidos no governo federal, com algumas dessas demissões sendo contestadas judicialmente. O aumento nos pedidos de auxílio-desemprego em Washington em fevereiro indica um reflexo das perdas de empregos entre contratados, segundo especialistas. Previsões indicam que até 2025, a área metropolitana de DC poderá perder cerca de 33.700 empregos federais.
O mercado de trabalho já pode estar sobrecarregado, dificultando a reintegração de todos os trabalhadores que perderam seus empregos, de acordo com Allison Shrivastava, economista do site de empregos Indeed. As perdas de empregos estimadas pela Oxford Economics para a área de Washington representariam uma perda de US$ 4,9 bilhões em salários neste ano. A dependência de trabalhadores contratados e outros que estão indiretamente ligados ao governo contribui para essa situação crítica. Historicamente, quando as pessoas perdem sua renda, tendem a reduzir gastos, especialmente em bens e serviços não essenciais, o que cria um efeito dominó na economia.
Alexandra Reid, uma especialista em programas de 30 anos, também foi demitida e relatou que a perda de emprego impactou drasticamente a renda familiar. Ela cortou todos os gastos não essenciais e se prepara para depender de suas economias para viver. Reid reflete sobre a adversidade do atual mercado de trabalho, onde encontrar uma nova posição se mostra desafiador. Recentemente, uma decisão judicial permitiu que centenas de funcionários em estágio probatório que foram demitidos temporariamente retornassem ao emprego, o que levantou as esperanças de Reid.
Miloud Benzerga, proprietário de um café no Edifício Ronald Reagan, observou uma queda de 25% a 30% no tráfego de clientes em sua loja desde o início das demissões, evidenciando o impacto que a crise não apenas afeta os trabalhadores, mas também os comerciantes locais. Ele expressa preocupação com a continuidade de seus negócios em meio à deterioração da estabilidade econômica.
A Câmara de Comércio de DC começou a registrar um aumento na preocupação entre empresas locais sobre a queda na atividade econômica, ligando isso aos cortes promovidos pela administração. Adam Kamins, da Moody’s, prevê que os efeitos das demissões nos setores de consumo, como varejo e hospitalidade, serão evidentes em um período curto, possivelmente resultando em uma recessão ao longo do segundo semestre deste ano.
A atividade no mercado imobiliário da área metropolitana também reflete mudanças significativas, com um aumento no número de casas à venda desde janeiro, resultando em um crescimento acentuado em comparação ao ano anterior. Economistas projetam que, embora algumas famílias optem por permanecer na região em busca de novas oportunidades, outras podem decidir se deslocar para novas localidades.
Embora a situação atual seja desalentadora, muitos, como Wolf, mantêm esperança de recuperação a longo prazo, expressando confiança na adaptação às circunstâncias adversas.