O Japão anunciou no dia 17 de outubro que tem a intenção de implantar mísseis balísticos de longo alcance na ilha de Kyushu, localizada ao sul do país. Essa medida visa reforçar a capacidade de resposta do Japão em face das crescentes tensões na região asiática e das incertezas sobre o compromisso dos Estados Unidos com os acordos de segurança estabelecidos. Os novos mísseis, com um alcance estimado de 1.000 km, seriam capazes de atingir alvos estratégicos na Coreia do Norte e na China, conforme indicado pela agência de notícias Kyodo.
As novas armas serão instaladas em bases militares já existentes, como o Camp Yufuin, na província de Oita, e o Camp Kengun, em Kumamoto. Os sistemas de armamento correspondem a versões atualizadas dos mísseis guiados Terra-Mar Tipo-12 da Força de Defesa Terrestre do Japão (GSDF).
Embora a proximidade com Taiwan seja um fator a ser considerado, o governo japonês optou por não posicionar esse tipo de armamento nas ilhas de Okinawa, a fim de evitar uma intensificação das tensões com Pequim. A China considera a ilha de Taiwan, que possui um governo democrático, como parte de seu território. No momento, a região abriga sistemas de defesa de menor alcance.
Essa decisão integra uma nova estratégia de “capacidades de contra-ataque” do Japão e ocorre em um contexto em que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, expressa dúvidas sobre a reciprocidade do tratado de defesa assinado em 1951, um acordo que foi estabelecido enquanto o Japão ainda se encontrava sob ocupação norte-americana. Trump recentemente fez críticas ao pacto, alegando que Washington arca com a responsabilidade de proteger o Japão, enquanto Tóquio não impõe a mesma obrigação em relação aos Estados Unidos.
Além disso, as declarações polêmicas de Trump sobre a possível anexação de territórios de aliados, incluindo Canadá, o Canal do Panamá e a Groenlândia (um território semiautônomo da Dinamarca), geraram inquietação no Japão em relação à fiabilidade da aliança com os Estados Unidos. Essa incerteza sobre o suporte americano poderia ressuscitar um tabu que há muito tempo é evitado: a possibilidade da aquisição de armas nucleares pelo Japão, um assunto sensível desde os bombardeios nas cidades de Hiroshima e Nagasaki. Apesar de a Constituição japonesa, através do artigo pacifista imposto por Washington após a Segunda Guerra Mundial, limitar a capacidade do país de prosseguir nesse sentido, a nova postura do Japão pode aumentar as chances de desenvolvimento de um arsenal nuclear próprio.