A Firefly Aerospace, uma companhia com sede no Texas, anunciou o encerramento de sua missão lunar histórica após atingir todos os seus objetivos. Este evento é destacado como a primeira operação comercial completamente bem-sucedida na Lua. O módulo Blue Ghost, um robô com quatro pernas e tamanho semelhante ao de um carro pequeno, esteve em operação no lado visível da Lua por duas semanas. O local de pouso foi nas proximidades de uma antiga formação vulcânica chamada Mons Latreille, localizada ao norte do equador lunar.
Durante a maior parte da missão, a espaçonave permaneceu sob luz solar, mas encerrou suas atividades em meio a um pôr do sol lunar neste domingo, embora tenha conseguido operar por cerca de cinco horas após o anoitecer, utilizando energia de suas baterias. O Blue Ghost transmitiu aproximadamente 120 gigabytes de dados para a Terra, o que equivale a mais de 24 mil músicas. Entre as suas atividades, destacam-se a captação do sinal de GPS mais distante registrado até o momento, a coleta de poeira lunar utilizando um dispositivo a vácuo e a implantação de uma perfuratriz para medir as temperaturas do solo. O sinal final do módulo foi recebido por volta das 20h15, no horário de Brasília.
O feito do módulo Blue Ghost representa as operações comerciais mais longas já registradas na superfície lunar. Antes de entrar no chamado “modo monumento”, a nave enviou uma mensagem de despedida à Terra, informando sobre a transição para uma inatividade indefinida. Na mensagem, o módulo expressou seu compromisso em “vigiar” a jornada da humanidade em direção às estrelas, refletindo sobre a engenhosidade humana e o legado da equipe que desenvolveu e operou a missão.
Realizar operações durante a noite lunar apresenta desafios significativos, já que as temperaturas na superfície podem variar drasticamente de 121 graus Celsius durante o dia para -173 graus Celsius à noite. O Blue Ghost aproveitou para capturar vídeo em 4K do pôr do sol lunar, um fenômeno visual semelhante ao que foi observado por astronautas das missões Apollo, quando a poeira lunar parece levitar em torno do horizonte.
Além disso, a espaçonave assistiu a um eclipse lunar na semana anterior, quando a sombra da Terra cobriu brevemente a Lua, permitindo que o módulo registrasse o “efeito anel de diamante” ao notar a luz solar emergindo ao redor da silhueta terrestre. Este fenômeno pode ser visto na Terra como uma “lua de sangue”, quando a Lua assume uma tonalidade avermelhada-alaranjada.
A Firefly classifica sua missão como “o primeiro pouso comercial totalmente bem-sucedido na Lua”. Esta afirmativa é comparada com a missão da empresa Intuitive Machines, cujos módulos enfrentaram dificuldades. O módulo Odysseus, da Intuitive Machines, foi a primeira espaçonave comercial a pousar na Lua, mas de forma não ideal, resultando em problemas de comunicação e uma conclusão prematura da missão. O segundo módulo, Athena, também encontrou dificuldades e ficou tombado depois do pouso.
Várias outras empresas, incluindo Astrobotic Technology, Ispace e SpaceIL, tentaram inequivocamente pousar na Lua sem sucesso nos últimos anos. Historicamente, missões lunares foram vistas como extremamente desafiadoras e caras, o que trouxe um considerável receio ao investimento por parte do setor privado. Tanto a Firefly quanto a Intuitive Machines enviaram seus módulos por meio do programa Commercial Lunar Payload Services (CLPS) da Nasa, que visa galvanizar o investimento empresarial na exploração lunar. A Firefly recebeu um contrato de 101,5 milhões de dólares para a sua missão.
Por meio do programa CLPS, a Nasa pretende estabelecer uma frota de espaçonaves desenvolvidas pelo setor privado que, de forma eficiente e econômica, possam explorar a superfície lunar antes do retorno de astronautas à Lua, previsto para esta década. Um engenheiro-chefe da Firefly destacou que, apesar de sua equipe parecer menos experiente do que aquelas de nações e empresas que tentaram pousos lunares anteriormente, a força do apoio mútuo foi fundamental para o sucesso da missão.
