Uma equipe de pesquisadores da Itália e da Escócia anunciou a identificação de uma extensa rede de estruturas subterrâneas sob o planalto de Gizé, onde se localizam as três grandes pirâmides do Egito. De acordo com os estudos, essas formações estariam situadas a cerca de dois mil metros de profundidade e se estenderiam por toda a base das pirâmides.
A notícia foi divulgada com base em uma metodologia de radar de alta frequência, utilizada comumente para mapear o fundo do mar. As imagens obtidas indicariam a presença de oito pilares enterrados sob a Pirâmide de Quéfren, além de poços cilíndricos com profundidade de 640 metros conectados a câmaras cúbicas de 80 metros. O volume total das estruturas subterrâneas seria aproximadamente dez vezes maior do que o das pirâmides, contendo múltiplos níveis e túneis ligados por passagens em espiral. Os pesquisadores especulam que essas formações possam estar relacionadas às chamadas “Salas de Amenti”, que a tradição egípcia descreve como um reino mítico abaixo da terra.
Em 2022, a descoberta foi inicialmente apresentada em um artigo na revista MDPI Remote Sensing e ganhou destaque novamente após uma apresentação na Itália. Durante uma coletiva, a porta-voz do projeto, Nicole Ciccolo, afirmou que os resultados do estudo “redefinem os limites da análise de dados via radar e da exploração arqueológica”. Ela também sugeriu a existência de pontos de acesso subterrâneo sob as três pirâmides, implicando uma conexão física entre elas por meio de túneis e câmaras.
No entanto, a descoberta suscita controvérsia na comunidade científica, que tem recebido as afirmações com ceticismo. Um dos principais críticos é o egiptólogo Zahi Hawass, ex-ministro de antiguidades do Egito e respeitada autoridade no estudo das pirâmides. Em entrevista, ele contestou a veracidade da alegação sobre o uso de radar dentro das pirâmides, afirmando que as técnicas utilizadas não são reconhecidas ou validadas cientificamente. Para ele, as declarações feitas pelos pesquisadores são “completamente erradas” e carecem de fundamentação científica.
Outro especialista, Lawrence Conyers, da Universidade do Arizona, que é conhecido por seu trabalho com tecnologias de radar na arqueologia, também se manifestou. Ele indicou que os equipamentos atuais não possuem a capacidade de produzir imagens confiáveis a profundidades tão extremas como as reivindicadas. Apesar de reconhecer que câmaras menores poderiam existir sob a área, devido à importância simbólica do local para civilizações antigas, enfatizou que apenas escavações controladas poderiam confirmar a presença de estruturas abaixo da areia.
O estudo que sustenta a nova descoberta ainda não foi revisado por pares, um processo fundamental pelo qual especialistas independentes avaliam dados e métodos utilizados antes da publicação científica. Além disso, a interpretação proposta pelos autores se desvia de explicações tradicionais, sugerindo que as pirâmides poderiam ter sido concebidas como câmaras de ressonância gigantes para gerar vibrações de baixa frequência ao serem preenchidas com água. Essa hipótese, embora intrigante, não possui respaldo em pesquisas arqueológicas consolidadas.
A falta de escavações concretas, a ausência de validação externa e a apresentação dos dados fora de canais científicos especializados têm alimentado o ceticismo em relação à pesquisa. Apesar disso, o estudo gerou interesse em escala internacional e reabriu discussões sobre a possibilidade de estruturas ocultas sob o planalto de Gizé. Contudo, a existência de uma cidade subterrânea abaixo das pirâmides do Egito permanece, até o momento, como uma especulação não comprovada.