A NASA anunciou em 24 de outubro que identificou as maiores moléculas orgânicas já encontradas em Marte. A sonda Curiosity coletou amostras de rochas que sugerem condições similares às que podem ter favorecido o surgimento da vida na Terra. Um estudo publicado na revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences detalha o material encontrado, levantando a hipótese de que a química prebiótica, que investiga as condições para o surgimento da vida, poderia existir no planeta vermelho mais cedo do que se previa.
A relevância da descoberta reside no nível molecular. A sonda americana encontrou, em seu mini laboratório, moléculas de decano, undecano e dodecano, formadas por 10, 11 e 12 átomos de carbono, respectivamente, que são considerados fragmentos de ácidos graxos. Na Terra, estes ácidos graxos são reconhecidos como fundamentais na formação de membranas celulares, sendo elementos essenciais para a vida.
Os ácidos graxos podem ser produzidos por seres vivos, mas também podem resultar de reações químicas originadas em processos geológicos, como as interações entre água e minerais em fontes hidrotermais. Embora a equipe da Curiosity ainda não tenha conseguido determinar a origem dos fragmentos encontrados, o tamanho das moléculas, superior ao de compostos anteriormente registrados, sugere um desenvolvimento mais complexo da química orgânica em Marte, possivelmente relacionado à origem da vida.
A descoberta foi acidental. A sonda Curiosity está em Marte desde 2012 e, um ano após sua chegada, coletou uma amostra de rocha denominada Cumberland. Essa amostra foi utilizada na recente busca por aminoácidos, que são componentes das proteínas, mas não foram encontrados. No entanto, ao aquecer a amostra, os pesquisadores descobriram as moléculas de decano, undecano e dodecano.
Importante destacar sobre essa descoberta acidental é que as cadeias das moléculas identificadas apresentam entre 11 a 13 átomos de carbono. Em geral, os ácidos graxos originados por processos não biológicos têm menos de 12 carbonos. Além disso, uma limitação técnica da sonda impede a identificação de moléculas maiores, o que pode indicar que a amostra de Cumberland poderia conter ácidos graxos ainda mais longos.
O próximo passo para os pesquisadores é trazer as amostras para a Terra, onde poderão ser analisadas com maior precisão. O cientista Daniel Glavin, do Centro de Voos Espaciais Goddard, afirma que a equipe está pronta para avançar na pesquisa com o envio das amostras de Marte para os laboratórios, com o objetivo de elucidar questões sobre a possibilidade de vida no planeta.