Atropelar instituições fundamentais para o funcionamento de um regime democrático, como o Judiciário, as forças de segurança e a imprensa, caracteriza a abordagem de autocratas que têm ganhado espaço na complexa dinâmica geopolítica atual. Esses líderes frequentemente mantêm a aparência de legitimidade por meio de eleições, embora essas ocorram em um ambiente marcado pela repressão e pelo medo, como observado na Turquia, governada por Recep Tayyip Erdogan desde 2003. A mais recente ação do presidente turco foi a prisão do prefeito de Istambul, Ekrem Imamoglu, um adversário político de destaque, realizada dias antes de ele ser indicado como candidato à presidência pelo Partido Republicano do Povo (CHP), em um pleito previsto para 2028, mas que pode ser antecipado.
A resposta do público não tardou a chegar, com milhares de pessoas saindo às ruas nas principais cidades do país, especialmente em Istambul, onde a violência tem aumentado e os confrontos com a polícia se intensificaram, como evidenciado no dia 23 de março. Essa situação não representa uma novidade na Turquia, mas a audácia de Erdogan, que justificou a prisão do oponente com acusações vagas de corrupção e de envolvimento em organizações criminosas, bem como a detenção de mais de 1.400 pessoas durante os protestos, chegou a um patamar crítico. Além disso, jornalistas que estavam cobrindo os atos, agora reprimidos pelo governo, também foram presos. O presidente se defendeu alegando que era necessário manter a ordem pública e evitar ações provocativas, mesmo diante de uma clara violação da liberdade de expressão e de imprensa.
Apesar de ter atingido o limite de dois mandatos, parece que Erdogan se prepara para buscar uma terceira gestão no Ak Saray, o Palácio Branco em Ancara, o que demonstra a fragilidade e os desafios enfrentados pela democracia no país.
