O Ministro das Relações Exteriores do Irã, Abbas Araqchi, programou uma visita à Rússia nesta semana, antecedendo uma segunda rodada de negociações entre Teerã e Washington, com o objetivo de resolver o longo impasse nuclear entre os países ocidentais e o Irã. Araqchi e o enviado do presidente dos Estados Unidos, Steve Witkoff, se reuniram em Omã no último sábado, onde o enviado do Omã, Badr al-Busaidi, mediou conversas entre as duas delegações, que estavam em locais distintos em seu palácio em Mascate. Os representantes de ambos os lados caracterizaram as negociações em Omã como “positivas”. No entanto, uma fonte iraniana informou que o propósito da reunião foi apenas estabelecer as bases para futuras discussões.
Fontes indicam que a Itália teria se oferecido para sediar a próxima sessão de negociações, mas uma fonte próxima ao governo iraniano afirmou que, embora os EUA prefiram Roma, o Irã tem uma inclinação por Genebra. Teerã tem abordado as negociações de forma cautelosa, expressando dúvidas sobre a viabilidade de um acordo e manifestando desconfiança em relação ao presidente Trump, que já ameaçou ações militares caso as conversas não resultem em um consenso. Os Estados Unidos buscam limitar o programa de enriquecimento de urânio do Irã, visto como uma possível via para a posse de armas nucleares por parte do país. O Irã, por sua vez, defende que seu programa nuclear é destinado somente à geração de energia civil.
O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores iraniano, Esmaeil Baghaei, declarou que Araqchi discutirá os recentes avanços das negociações de Mascate com autoridades russas. Moscou, que faz parte do acordo nuclear iraniano de 2015, tem defendido o direito de Teerã a um programa nuclear civil. O líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei, que possui a palavra final em assuntos do Estado, é cético em relação aos Estados Unidos e ao presidente Trump em particular. No entanto, Khamenei foi pressionado a interagir com Washington na busca por um acordo nuclear devido ao risco de que a insatisfação pública crescente, causada por dificuldades econômicas, pudesse desencadear protestos em larga escala, ameaçando assim o regime clerical iraniano.
A preocupação do Irã foi intensificada pela reintrodução da política de “pressão máxima” por parte de Trump, que voltou à Casa Branca em janeiro. Durante seu primeiro mandato, Trump rompeu o acordo nuclear de 2015 com seis potências globais e restaurou sanções rigorosas contra a República Islâmica. Desde 2019, o Irã tem superado os limites de enriquecimento de urânio estipulados no acordo, produzindo estoques com níveis de pureza físsil elevados, além do que é considerado aceitável para um programa civil, aproximando-se do necessário para armamento nuclear.
A Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) expressou preocupação em relação ao crescente estoque de urânio enriquecido a 60% do Irã e não registrou avanços significativos na resolução de questões pendentes, incluindo a presença de vestígios de urânio em locais não declarados. O diretor da AIEA, Rafael Grossi, visitará Teerã na quarta-feira, com a intenção de amenizar as divergências entre a agência e o Irã sobre as questões em aberto. Grossi ressaltou em uma postagem nas redes sociais que o engajamento e a cooperação contínuos com a AIEA são vitais em um momento em que soluções diplomáticas são urgentemente necessárias.