Fornecedores chineses têm utilizado redes sociais nos Estados Unidos para encorajar os usuários a evitarem as tarifas de 145% que foram implementadas pelo governo do ex-presidente Donald Trump sobre produtos provenientes da China, sugerindo a compra direta de itens de suas fábricas. Um usuário da plataforma TikTok se apresentou como Wang Sen, alegando ser o fabricante original para várias marcas de luxo e exibindo uma coleção de bolsas Birkin que, segundo ele, são muito caras. Os fabricantes originais de equipamentos, conhecidos como OEMs, são responsáveis pela produção de bens para outras empresas, que subsequentemente os comercializam sob suas próprias marcas. Em um vídeo, Wang convidou os consumidores a entrarem em contato diretamente com ele para obter preços surpreendentemente baixos; no entanto, a gravação foi removida do aplicativo.
Nesta mesma semana, os Estados Unidos alcançaram um novo recorde na importação de carne brasileira, enquanto a Casa Branca divulgou que as tarifas impostas à China podem chegar a até 245%. Além disso, o ex-presidente Trump se reuniu com autoridades japonesas para discutir questões tarifárias. Durante esse período, a plataforma DHgate, um marketplace online conhecido por comercializar réplicas de produtos de luxo, alcançou o segundo lugar na lista de aplicativos mais baixados na App Store dos EUA. Outro aplicativo, Taobao, se destacou em sétimo lugar. Especialistas consultados manifestaram dúvidas quanto à legitimidade desses fornecedores em relação a grandes marcas como Lululemon e Chanel, observando que fabricantes autênticos geralmente firmam acordos de confidencialidade que impedem a divulgação de tais associações.
Os vídeos postados por esses criadores ressaltam não apenas a preocupação dos consumidores causada pelas tarifas, mas também a crescente dependência do mercado americano em relação à manufatura chinesa. A mensagem que circula entre esses fornecedores é que, apesar das alegações da Casa Branca de priorizar os interesses americanos, as políticas econômicas recentemente implementadas podem resultar em menos acesso a produtos desejados ou em custos mais elevados para os consumidores. Um dos comentários sob um vídeo que apresentou tentativas de conectar usuários a fornecedores de leggings Lululemon afirmou: “Isso é realmente uma guerra comercial”. Uma influenciadora, conhecida como LunaSourcingChina, teve destaque ao promover fábricas em Yiwu, alegando que a marca Lululemon obtinha leggings por um custo de U$ 98, que poderiam ser adquiridas nos mesmos locais por um valor muito inferior.
Em um comunicado, a Lululemon afirmou que não tem relação comercial com os fabricantes mencionados em vídeos online e alertou os consumidores sobre possíveis produtos falsificados e a disseminação de informações enganosas. As fábricas citadas não fazem parte da lista de fornecedores da Lululemon divulgada em abril de 2025. Embora a empresa tenha várias parcerias com fábricas na China, também possui fornecedores em outros países como Vietnã, Peru e Camboja. Especialistas apontam que fábricas que oferecem vendas diretas ao consumidor americano não são legítimas, pois fabricantes que atuam para grandes marcas geralmente estão sujeitos a rígidas obrigações contratuais que proíbem a divulgação dessas informações.
Os produtos apresentados nos vídeos do TikTok podem ser versões réplicas ou falsificações, algo que a Lululemon já se esforçou para combater anteriormente. Um questionamento que surge é se produtos de luxo anunciados como fabricados na Itália ou na Suíça realmente têm sua origem na China. A resposta não é simples; muitos itens de luxo passam por processos de montagem em diferentes países e podem incluir componentes fabricados na China antes de serem finalizados em locais como França ou Itália.
Isto significa que, mesmo que algumas partes de produtos de luxo sejam provenientes da China, não há garantias adequadas em termos de segurança e Controle de qualidade quando adquiridos desses fornecedores diretos em plataformas como TikTok. Não há também garantias ou possibilidade de devoluções. A probabilidade de que esses produtos, mesmo adquiridos diretamente de fabricantes chineses, consigam escapar das tarifas de 145% é incerta. Especialistas preveem que mercadorias compradas diretamente de fabricantes em sites como Temu e Aliexpress provavelmente também enfrentarão aumentos de preços devido à futura eliminação da isenção de minimis para pacotes de valor inferior a U$ 800.
O crescimento da popularidade desse tipo de vídeo que apresenta fornecedores chineses tem colocado em evidência a dependência dos Estados Unidos em relação às cadeias de suprimento internacionais. Isso levanta questões históricas sobre a origem real de produtos consumidos por americanos. Por outro lado, essa situação também destaca as implicações ambientais que a demanda em massa por produtos de fabricantes chineses pode acarretar, principalmente em um cenário onde lojas como Shein e Temu ganham destaque, se beneficiando da isenção fiscal que será removida. A prática de envio individual de pacotes em grandes volumes é descrita como “um desastre ambiental”, resultando em uma significativa pegada de carbono devido ao transporte e à embalagem excessiva e muitas vezes, itens de baixo custo acabam se transformando em resíduos.