O vice-presidente dos Estados Unidos, JD Vance, manteve um encontro com altos representantes do Vaticano no último sábado (19), buscando diálogo após críticas do papa Francisco à política de imigração da administração Trump. Durante a reunião, o Vaticano divulgou que houve uma “troca de opiniões” sobre temas como migração, refúgio e a situação de prisioneiros.
Vance, que se identifica como católico, estava em Roma com sua família para o feriado da Páscoa e participou de um serviço religioso na Basílica de São Pedro na Sexta-feira Santa. No sábado (19), ele se reuniu com o cardeal Pietro Parolin, secretário de Estado da Santa Sé, e com o arcebispo Paul Gallagher, responsável pela diplomacia vaticana. Não foi confirmado um encontro com o Papa Francisco, que se encontra em recuperação após uma pneumonia dupla.
Este encontro representa as primeiras discussões presenciais entre a Santa Sé e o governo Trump em sua segunda administração, em um contexto de tensões entre os líderes católicos e o governo. O comunicado do Vaticano pós-reunião destacou que houve uma troca de opiniões sobre a conjuntura internacional, enfatizando questões de guerra, tensões políticas e situações humanitárias, necessariamente focando em migrantes, refugiados e prisioneiros.
Antes da reunião, o cardeal Parolin comentou sobre as diferenças significativas da atual administração dos EUA em relação ao que a Igreja estava habituada, especialmente no Ocidente. Ao abordar a solicitação do governo para um cessar-fogo na Ucrânia, o cardeal manifestou que a Santa Sé apoia a soberania e a integridade territorial da Ucrânia, afirmando que a decisão sobre negociações cabe exclusivamente aos ucranianos.
Antes de ser internado em fevereiro, o Papa Francisco criticou publicamente a política de imigração da administração Trump e contestou a interpretação feita pelo vice-presidente sobre o conceito teológico “ordo amoris” para justificar as políticas do governo. Em uma carta aos bispos dos EUA, o Papa ressaltou que o verdadeiro ‘ordo amoris’ deve se inspirar na parábola do ‘Bom Samaritano’, promovendo um amor que construa fraternidade sem exceções.
O Vaticano também expressou preocupação com os cortes nos fundos da USAID que foram implementados desde janeiro. Enquanto isso, um bispo americano, natural de El Salvador, incentivou os católicos a se oporem às deportações promovidas pela administração Trump, que incluem pessoas em situação de vulnerabilidade em seu país de origem. Após críticas da conferência episcopal às políticas de imigração do governo, Vance insinuou que a posição dos bispos foi influenciada por questões financeiras, já que a Igreja Católica recebe recursos do governo para reassentar imigrantes. Em resposta, a conferência episcopal esclareceu que os fundos públicos não cobrem os custos totais dessa assistência.
O comunicado do Vaticano após o encontro de Vance expressou a expectativa de uma colaboração pacífica entre o Estado e a Igreja Católica nos Estados Unidos, reconhecendo o valioso serviço prestado à população vulnerável. Apesar das tensões, o Vaticano tem experiência em dialogar com líderes com os quais discorda. A declaração reafirmou as boas relações bilaterais entre a Santa Sé e os Estados Unidos, além do compromisso compartilhado de proteger os direitos à liberdade religiosa e de consciência.