20 abril 2025
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Uísque: A Nova Oportunidade de Investimento – Beba Gelado ou Puro?

No dia 18 de novembro de 2023, um leilão na Sotheby’s, em Londres, resultou na venda de uma garrafa de uísque pelo valor de US$ 2,7 milhões. Essa transação elevou o Macallan Valerio Adami 60 anos à posição de bebida mais valiosa já leiloada. Com seis décadas de envelhecimento, apenas 40 garrafas do The Macallan 1926 foram engarrafadas em 1986, a safra mais antiga da renomada destilaria escocesa, que foi fundada em 1824. Dentre essas garrafas, apenas 12 foram etiquetadas pelo artista italiano Valerio Adami, uma figura icônica da pop art.

Antes deste leilão, a marca já havia estabelecido recordes; uma garrafa da coleção Fine & Rare do mesmo uísque foi vendida por US$ 1,9 milhão em 2019, superando uma venda anterior de US$ 628,2 mil do Macallan M Decanter 2013 realizada em 2014, em Hong Kong. Para aqueles alheios ao mercado de uísques sofisticados, pode parecer incompreensível que alguém pague tais quantias por uma bebida que frequentemente não será consumida. Contudo, existem razões subjacentes a essas aquisições. Em primeiro lugar, o número de colecionadores está crescendo, o que se assemelha à crescente busca por itens de memorabilia. Em segundo lugar, há um aumento do interesse no uísque como uma forma de investimento com alto retorno, pelo menos até o momento.

Nos últimos dez anos, o valor do uísque cresceu impressivos 280%, segundo o The Wealth Report 2024, voltado ao mercado de indivíduos de alta renda. Para fins de comparação, as obras de arte subiram apenas 29% nesse mesmo período, enquanto carros e relógios de luxo aumentaram 25% e 18%, respectivamente. Especialistas observam um crescimento nos três perfis de consumidores: aqueles que compram uísque como investimento, aqueles que desejam degustá-lo e colecionadores que nutrem um entusiasmo genuíno por esse hobby.

Entre os dez uísques mais caros já vendidos em leilão, cinco pertencem à The Macallan. A destilaria enfatiza sua capacidade de criar edições especiais e limitadas, impulsionadas por um estoque diversificado de barris não abertos e envelhecidos por até 80 anos. Isso resulta em uma lista de espera para algumas das garrafas mais exclusivas, atualmente com um tempo de espera em torno de seis meses.

Marcas como Royal Salute, Bowmore, a japonesa House of Suntory e a americana Van Winkle também se destacam no mercado de uísques raros, atraindo tanto investidores quanto colecionadores. O aumento do interesse por uísques raros está trazendo à tona as chamadas “destilarias esquecidas”, que são marcas que foram abandonadas, mas cujos produtos foram preservados. Muitas dessas marcas, como a Port Ellen, pertencem a grandes conglomerados e estão sendo relançadas devido ao crescente interesse do mercado.

A Port Ellen, por exemplo, foi fechada em 1983 e reabriu recentemente, aproveitando a nova demanda por uísques raros. Enquanto na década de 1980, um uísque dessa destilaria custava cerca de £ 60, o mesmo produto agora atinge preços de £ 3 mil. O apelo crescente por esses produtos se deve, em parte, à história que eles contam, o que contribui para sua valorização.

Recentemente, também foi notado que o Old Rip Van Winkle se tornou o bourbon mais caro da história, leiloado por US$ 125 mil. Esta bebida é resultado de uma combinação de barris de uísque com idades entre 15 e 20 anos, adquiridos de uma destilaria que operou de 1935 até 1972.

A destilaria Bowmore, em colaboração com a Aston Martin, lançou a Série ARC, incluindo o single malt ARC-54, um uísque de 54 anos, que custa cerca de US$ 80 mil. A escocesa Port Ellen é uma das marcas que foram recuperadas como parte desse movimento de revitalização do mercado de uísque.

Sabe-se que os investidores de uísque frequentemente não são apenas conhecedores da bebida; muitos compram garrafas com o intuito de degustar uma delas e preservar outra para investimento. Programas de compra de barris envelhecidos estão se tornando comuns, permitindo que investidores tenham garrafas de uísque exclusivas em décadas futuras. A comercialização de uísque exige um conhecimento detalhado e uma dose de paciência; os resultados positivos são frequentemente observados por aqueles que esperam.

A produção de uísque, conforme explicado por especialistas, envolve um cuidadoso processo de envelhecimento. O sabor do uísque é influenciado pelo tipo de grão e pela madeira dos barris de armazenamento, além das condições de envelhecimento. Barris feitos de carvalho europeu ou americano são utilizados apenas por um curto período, pois o uso excessivo reduz a intensidade do sabor da bebida. A diversificação de sabores também é consequência de barris que já auxiliaram na maturação de outras bebidas, como jerez, bourbon, chardonnay e pinot noir.

A previsão é que o mercado global de single malt se desenvolva em um ritmo mais acelerado do que o do próprio uísque, com um crescimento esperado de 6% anualmente até 2030. O Brasil, também, está apresentando um aumento significativo nesse segmento: enquanto rótulos sofisticados representavam apenas 2% do consumo total de destilados em 2023, agora constituem 10%. De 2021 a 2023, o setor de uísque no Brasil cresceu 16%, colocando o país em uma posição de destaque global.

Embora a origem exata do uísque seja debatida, o primeiro registro datado remonta a 1494, quando um frade encomendou um grande volume de malte destinada à produção para o rei James IV. O termo “uísque” deriva do celta “uisge beatha”, que significa “água da vida”. A bebida começou a ganhar popularidade mundial entre os séculos XIX e XX, com a invenção do uísque blend no século XIX, que democratizou a bebida e a tornou mais acessível. Crises que afetaram a produção de conhaque também impulsionaram o consumo de uísque durante esse período. Hoje, o single malt se destaca novamente como um atrativo no mercado de investimentos.

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