O cardeal italiano Giovanni Angelo Becciu foi uma das figuras mais influentes do Vaticano, tendo exercido a função de “sostituto” na Secretaria de Estado da Santa Sé, posição equivalente ao chefe de gabinete do Papa Francisco. Becciu, que havia sido considerado um possível sucessor do pontífice, foi afastado do clérigos em 2020 devido a uma investigação relacionada a fraudes, pela qual foi condenado três anos depois. Em 22 de agosto de 2023, ele gerou nova controvérsia ao declarar que participará do conclave que elegerá o próximo papa, apesar de não estar oficialmente listado como eleitor pela Santa Sé.
De acordo com o painel do Colégio de Cardeais no site do Vaticano, Becciu não possui direito de voto, já que tem 76 anos — somente os cardeais com menos de 80 anos podem votar e se reunir na Capela Sistina para o conclave, um evento destinado à escolha do próximo líder da Igreja Católica. Becciu argumentou que suas prerrogativas como cardeal permanecem válidas, uma vez que, segundo ele, não houve uma manifestação clara de sua exclusão do conclave ou um pedido formal de renúncia por escrito.
A condenação de Becciu está associada à compra de um edifício de luxo em Londres, realizada parcialmente com fundos doados pelos fiéis para o fundo de São Pedro, que destina recursos aos necessitados. Este negócio resultou em um prejuízo de 139 milhões de euros (aproximadamente R$ 900 milhões na cotação atual) para as finanças do Vaticano, tornando Becciu o primeiro cardeal a ser julgado e condenado por um tribunal criminal da Santa Sé. Ele sempre defendeu sua inocência e atualmente recorre da decisão, mantendo a possibilidade de residir em um apartamento no Vaticano enquanto o processo legal continua.
A investigação que resultou em sua condenação também levou à renúncia do chefe de segurança do Vaticano, à dispensa de vários profissionais do setor financeiro e à prisão de um banqueiro italiano que atuou como intermediário nas transações imobiliárias ligadas ao caso. Antes mesmo do início do julgamento, o Papa Francisco afastou Becciu do cargo de chefe do departamento responsável pela canonização de santos, e também lhe pediu a renúncia dos “direitos e privilégios” associados ao seu título de cardeal, ação que nunca foi formalizada. Essa situação representou um golpe significativo para Becciu, que havia exercido um papel crucial na administração da cúria e mantinha acesso direto ao Papa.
A decisão sobre a possível participação de Becciu no conclave será tomada pelo decano do Colégio Cardinalício, Giovanni Battista Re, e pelo cardeal Pietro Parolin, secretário de Estado do Vaticano, que será responsável pela supervisão dos procedimentos do conclave que ocorrerá na Capela Sistina.