Eleito presidente da Câmara em fevereiro, Hugo Motta (Republicanos-PB) iniciou sua gestão prometendo focar em questões como segurança pública e economia. No entanto, até o momento, a atenção da Casa tem se concentrado em temas que não refletem as necessidades da população.
Desde a retomada dos trabalhos legislativos, a principal discussão entre os deputados gira em torno da proposta de anistia para os envolvidos na tentativa de golpe de 8 de janeiro de 2023. Essa pauta tem monopolizado a agenda, relegando a debates importantes, como a proposta de isenção do Imposto de Renda (IR) para quem ganha até 5.000 reais, a um segundo plano.
Mesmo os parlamentares da base governista, que esperam que a ampliação da faixa de isenção do IR ajude o presidente Lula a recuperar sua popularidade, consideram prioritário barrar o avanço da proposta de anistia. Na última quinta-feira, 24, Motta recebeu a garantia de que o projeto não será discutido na próxima semana, apesar de 262 deputados terem assinado um pedido de urgência para sua análise.
A decisão de Motta, segundo ele, foi tomada após diálogo com os líderes partidários. “Continuaremos a debater para que a Casa encontre uma solução para esse tema. A decisão sobre a pauta é prerrogativa do presidente, mas exercerei meu papel com diálogo e equilíbrio”, declarou. A promessa inclui a votação de iniciativas voltadas para a educação, embora a oposição tenha ameaçado obstruir os trabalhos se a anistia não for apresentada ao plenário.
Outro tema polêmico nos bastidores da Câmara é o pedido de cassação do deputado Glauber Braga (PSol-RJ), que agrediu um membro do Movimento Brasil Livre após comentários sobre a saúde de sua mãe, que faleceu dias depois.
O Conselho de Ética recomendou a cassação de Braga, que se recorreu à Comissão de Constituição e Justiça. Caso não tenha êxito, ainda terá a última oportunidade de defender seu mandato no plenário. O caso não revela um esforço dos parlamentares em preservar o decoro ou punir erros como corrupção; pelo contrário, parece representar uma vingança pelos poucos laços que Braga construiu na Casa, além de suas críticas ao Centrão e ao orçamento secreto.
A punição de Braga, reconhecida até mesmo por aliados, é defendida de maneira que sugere uma sanção mais leve do que a cassação, alinhada a precedentes recentes. O tema da anistia e esse pedido de cassação não deveriam ser prioridades na agenda dos deputados, dada a necessidade de focar em assuntos mais relevantes para o Brasil.