Um estudo recente do MapBiomas revelou que 122 sítios arqueológicos no Brasil estão situados em áreas que sofreram desmatamento entre 2019 e 2024. A pesquisa, que integrou dados de preservação ambiental e registros de patrimônio histórico, evidencia a vulnerabilidade do acervo arqueológico nacional ao avanço do desmatamento em diversos biomas.
Os sítios arqueológicos afetados estão distribuídos primordialmente entre a Caatinga, com 29 locais, a Mata Atlântica, com 31, e a Amazônia, com 17. O estudo demonstra que o patrimônio histórico e cultural do Brasil enfrenta uma ameaça direta da degradação ambiental, o que pode resultar em impactos irreversíveis para a preservação da memória nacional.
O coordenador técnico do MapBiomas destacou que o cruzamento de dados é fundamental para evitar que a recente ocupação humana cause danos ou destrua a história presente nesses locais. Os resultados já apontam padrões preocupantes sobre as causas do desmatamento.
A análise revela que aproximadamente dois terços dos sítios arqueológicos afetados, totalizando 79, estão localizados em áreas que foram desmatadas para a expansão da fronteira agrícola. Além disso, foi identificado um fenômeno regional significativo, onde no Rio Grande do Norte, 13 dos 19 sítios arqueológicos estão sob alerta de desmatamento devido a projetos de energias sustentáveis, como usinas solares ou eólicas.
Os pesquisadores notaram que, paradoxalmente, iniciativas consideradas ambientalmente sustentáveis, como a geração de energia renovável, podem ameaçar o patrimônio arqueológico quando não implementadas com planejamento e fiscalização adequados.
Uma pesquisadora vinculada ao estudo enfatizou a urgência de ações concretas. O crescimento das atividades humanas nas proximidades dos sítios arqueológicos aumenta a necessidade de políticas de conservação e gestão do patrimônio, especialmente diante das crescentes pressões sobre os biomas.
O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), responsável pela proteção dos sítios arqueológicos, expressou sua preocupação em relação aos resultados do estudo. O órgão informou que está intensificando as ações de fiscalização nas áreas críticas e que está atualizando o Sistema Nacional de Patrimônio Arqueológico para incluir alertas sobre desmatamento.
Especialistas destacam que cada sítio danificado representa uma perda irreparável de conhecimento sobre a ocupação humana no Brasil, com alguns vestígios datando de milhares de anos. Itens, pinturas rupestres e outras evidências que poderiam contribuir para a compreensão de civilizações pré-colombianas estão sendo perdidos sem um estudo adequado.
Além disso, o estudo do MapBiomas sugere que a situação pode ser ainda mais severa, considerando que muitos sítios arqueológicos no Brasil não foram oficialmente catalogados. Estimativas indicam que menos de 30% do potencial arqueológico nacional está devidamente identificado.
A pesquisa recomenda a criação de “zonas de amortecimento” ao redor dos sítios arqueológicos com restrições rigorosas contra o desmatamento. Propõe, ainda, a intensificação de parcerias entre órgãos ambientais e culturais para alinhar esforços de conservação.
A preservação desses sítios é considerada uma questão que abrange tanto a cultura quanto o meio ambiente, uma vez que áreas de relevância arqueológica frequentemente coincidem com ecossistemas sensíveis e de rica biodiversidade.
O relatório gerado será enviado aos ministérios do Meio Ambiente e da Cultura, recomendando a inclusão dos sítios arqueológicos nos sistemas de monitoramento ambiental já existentes.