O Reino Unido participou, no dia 29, de ataques aéreos realizados pelos Estados Unidos contra os rebeldes hutis no Iémen. Esta ação marca a primeira operação militar britânica desde a ascensão do Partido Trabalhista ao poder, em junho do ano anterior. Além disso, trata-se da estreia dos britânicos na grande ofensiva dos EUA contra o grupo insurgente no Oriente Médio, após críticas severas do vice-presidente americano, J.D. Vance, a países europeus por sua dependência em relação à proteção da Casa Branca.
Os caças Typhoon da Força Aérea Real, acompanhados por aviões-tanque Voyager, atacaram instalações localizadas a 24 quilômetros ao sul da capital, Sanaa. De acordo com o governo britânico, os edifícios eram utilizados pelos hutis para a fabricação de drones que seriam empregados em ataques contra embarcações no Mar Vermelho e no Golfo de Áden, sendo este grupo apoiado financeiramente pelo Irã.
O secretário de Defesa do Reino Unido, John Healey, declarou que o ataque representa uma resposta a uma “ameaça persistente dos hutis à liberdade de navegação”. Healey informou que uma redução de 55% no transporte marítimo pelo Mar Vermelho resultou em prejuízos bilionários, contribuindo para a instabilidade regional e colocando em risco a segurança econômica das famílias britânicas.
Historicamente, o Reino Unido não é novo no apoio aos Estados Unidos na ofensiva contra os hutis. Entre janeiro e maio de 2024, britânicos integraram cinco rodadas de ataques aéreos no Iémen, como parte da Operação Poseidon Archer, uma missão destinada à proteção de embarcações no Mar Vermelho, sob a liderança do então presidente Joe Biden. Contudo, a participação britânica havia diminuído após o retorno de Donald Trump à presidência.
Em 15 de março, Trump lançou a Operação Rough Rider, que teve como alvo 800 locais, resultando na morte de “centenas de combatentes e vários líderes hutis”, segundo informações do comando central das Forças Armadas dos EUA. Entretanto, esse aumento nas ações militares culminou em um crescimento de vítimas civis, incluindo pelo menos 68 mortes em um ataque a um centro de detenção que abrigava migrantes africanos na cidade de Saada, no noroeste do Iémen. Outras oitenta mortes de civis foram registradas em um ataque ao porto de Ras Isa.
No mês anterior, o editor-chefe da revista The Atlantic reportou que o Departamento de Defesa dos EUA possuía um grupo secreto no aplicativo Signal, onde discutia abertamente planos de ataque contra os hutis. O New York Times classificou o incidente como uma “violação extraordinária da segurança nacional americana”, uma vez que a conversa foi realizada fora de canais restritos do governo.
Durante essas discussões, Vance criticou a postura do presidente Trump em relação aos ataques, argumentando que ampliar a ofensiva não traria benefícios para os EUA, visto que apenas “3% do comércio passa pelo Canal de Suez”, uma rota comercial crucial acessada pelo Mar Vermelho. Contudo, ele apontou que “40% do comércio europeu passa” por essa via. Vance também expressou incerteza sobre a incongruência entre a mensagem do presidente e a situação atual da economia, sugerindo que poderia haver uma consistente revisão da participação dos EUA nos ataques, ao mesmo tempo que criticou a postura de alguns países europeus.