quarta-feira, fevereiro 5, 2025
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Na delicada pausa entre Israel e Hamas, o mais crítico…

Sob um cessar-fogo monitorado constantemente, que está sempre à beira de um colapso, Israel voltou a receber, após 470 dias dramáticos de cativeiro em Gaza, três mulheres sequestradas pelo Hamas durante o violento ataque de 7 de outubro de 2023, o qual deu início a uma guerra em grande escala. A libertação delas, juntamente com cinquenta prisioneiros palestinos, marca o começo da primeira de três fases de um acordo obtido com grande dificuldade — nos próximos 42 dias, 33 reféns devem ser trazidos de volta para Israel (um segundo grupo está programado para o sábado, 25), em troca da libertação de aproximadamente 1.000 prisioneiros palestinos. A cada lado tentando se apropriar do triunfo, militantes do Hamas surgiram dos esconderijos e desfilaram armados pelas ruas de Gaza, enquanto o primeiro-ministro israelense se vangloriava de ter “transformado o cenário do Oriente Médio”. Essas exibições de força criam um cenário para negociações críticas e desafiadoras.

As discussões da nova fase estão agendadas para começar no dia 4 de fevereiro e abordarão temas delicados. Um dos pontos polêmicos é a lista de prisioneiros que o Hamas exige em troca dos reféns que restam (muitos dos quais estão mortos), incluindo líderes que estão detidos há décadas e que são considerados perigosos e extremistas. Outro ponto complicado é o cronograma para a retirada das forças israelenses, que o Hamas demanda que seja total, enquanto o governo de Netanyahu insiste na necessidade de manter o controle de áreas estratégicas. Adicionalmente, a criação de uma nova liderança em Gaza que seja aceitável para Israel é uma questão complexa, uma vez que o país rejeita qualquer papel do Hamas, que controla a região há 18 anos, e também se opõe à presença da Autoridade Palestina, considerada por muitos palestinos como uma organização ultrapassada e corrupta. “O acordo representa uma trégua instável, e não um fim do conflito, o que demanda um retorno quase imediato às negociações para manter as fases subsequentes em andamento, além de pressão contínua por parte da comunidade internacional, principalmente dos Estados Unidos”, afirma uma especialista em questões do Oriente Médio.

Quando questionado sobre as chances de manutenção do cessar-fogo, o próprio ex-presidente afirmou ter suas dúvidas — sempre enfatizando que “essa guerra é deles, não é nossa”. Se um acordo for selado que resulte no término definitivo das hostilidades — um “se” de grandes proporções —, a terceira fase consistirá em enfrentar a tarefa de reconstruir um território devastado por mais de um ano de bombardeios quase incessantes. Nos primeiros dias da atual trégua, muitos moradores de Gaza, deslocados em razão dos ataques israelenses — cerca de 90% dos quase 2 milhões de habitantes se viram obrigados a deixar suas casas — começaram a retornar, apesar de suas residências terem se tornado escombros, sob os quais se encontram um número indeterminado de vítimas (estima-se que cerca de 10 mil possam se somar aos 47 mil contabilizados oficialmente). Apenas a remoção dos mais de 50 milhões de toneladas de entulho pode demandar até quatorze anos e custar 1,2 bilhão de dólares.

Com os avanços militares que tornaram o Hamas uma sombra do que era antes, enfraqueceram o Hezbollah no Líbano e pressionaram o Irã, que apoia ambos os grupos, Netanyahu conseguiu recuperar parte de sua popularidade e agora tenta manter-se equilibrado no poder — um desafio que exigirá toda sua experiência em lidar com crises. Em razão da trégua, um dos integrantes ultranacionalistas de sua coalizão — o partido de um conhecido político que renunciou ao cargo de ministro da Segurança Nacional — anunciou sua saída e outros podem seguir o mesmo caminho, o que, se concretizado, fará com que o governo perca a maioria e obrigue a convocação de novas eleições.

A insurreição da direita radical contra o que considera uma concessão inaceitável ao Hamas pode ter impulsionado a incursão das Forças Armadas israelenses em um novo conflito. Poucos dias após o anúncio da trégua em Gaza, aviões de combate israelenses iniciaram a operação em Jenin, uma cidade da Cisjordânia com um grande campo de refugiados, resultando na morte de dez pessoas. “Essa ação é decisiva para eliminar terroristas”, declarou o ministro da Defesa. Na mesma ocasião, o comandante do Estado-Maior renunciou e assumiu a responsabilidade pelas falhas de segurança que permitiram o ataque do Hamas, isentando o primeiro-ministro e favorecendo sua defesa em uma investigação sempre adiada sobre o caso. O futuro político de Netanyahu, que enfrenta um julgamento por corrupção, também depende do apoio esperado de aliados na defesa dos interesses de Israel no Oriente Médio. Com tantas incertezas, as perspectivas de paz — ou ao menos de uma pausa prolongada na violência — continuam em aberto.

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