Na última sexta-feira, 24 de janeiro de 2025, a chegada de brasileiros deportados dos Estados Unidos, que estavam algemados durante o voo, gerou um clima de tensão diplomática entre os dois países. Essa não é a primeira ocasião em que o governo americano utiliza algemas em deportações de brasileiros; trata-se de uma prática recorrente que vem sendo criticada pelo Itamaraty há anos. Em setembro de 2021, por exemplo, o Ministério das Relações Exteriores já havia pedido o fim desse procedimento como condição para aumentar a frequência dos voos de repatriação ao Brasil. Naquela época, o número de brasileiros detidos na fronteira com o México havia aumentado significativamente, com muitos tentando encontrar rotas alternativas para entrar nos Estados Unidos.
Apesar das solicitações do governo brasileiro, suas reivindicações não foram atendidas. Em fevereiro de 2022, durante o segundo ano da administração de Biden, o uso de algemas em um voo de deportação gerou novamente uma controvérsia entre o governo democrata e o de Jair Bolsonaro.
Entre 27 de janeiro de 2023 e 10 de janeiro de 2025, a gestão de Joe Biden enviou um total de 32 voos com 3.660 brasileiros deportados dos Estados Unidos, todos com destino ao Aeroporto de Confins, em Minas Gerais. Essas informações foram obtidas por meio do portal que analisou dados da concessionária responsável pela administração do aeroporto.
O primeiro voo de deportados, após a posse de Donald Trump, aterrissou em Manaus devido a problemas técnicos no ar-condicionado da aeronave. O governo brasileiro decidiu buscar o grupo na capital amazonense, uma vez que as autoridades americanas insistiam para que os deportados continuassem a viagem até Minas Gerais algemados.
O ministro da Justiça no Brasil, Ricardo Lewandowski, ordenou a retirada das algemas dos brasileiros. Ele condenou a prática, descrevendo-a como um “desrespeito aos direitos fundamentais dos cidadãos brasileiros”. Em um comunicado oficial divulgado no domingo, o Itamaraty considerou a atitude americana como “inaceitável” e informou que irá solicitar esclarecimentos sobre o incidente ao governo dos Estados Unidos. “O uso indiscriminado de algemas e correntes fere os termos estabelecidos no acordo com os EUA, que prevê um tratamento digno, respeitoso e humano aos deportados”, afirmou a nota.