7 junho 2025
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A Revolução do Giz Virtual: Como a Inteligência Artificial Está Transformando a Educação

Foi como uma avalanche — semelhante ao impacto causado pela chegada do cinema no final do século XIX. Em 1895, os irmãos Lumière apresentaram um trem que parecia se aproximar da plateia, gerando espanto entre os espectadores. Mais de um século depois, o surgimento de robôs de inteligência artificial (IA), como o ChatGPT, provocou uma reação de espanto e preocupação na educação. Muitos temiam que essa tecnologia levaria à falência do aprendizado, com um acesso facilitado a informações que poderia resultar em descaso pelo pensamento crítico.

Outra preocupação relacionada à IA é a desinformação e a tendência para a superficialidade, o que poderia diminuir o interesse pela leitura. A percepção inicial era de que essas ferramentas representariam um retrocesso, mas o tempo demonstrou que os avanços da IA não irão desestabilizar a educação. Ao contrário, a questão agora é encontrar maneiras de integrar essas tecnologias de forma eficaz nas salas de aula, beneficiando tanto educadores quanto estudantes.

Uma pesquisa recente do instituto britânico Hepi, focado em políticas educacionais, revelou que 92% dos alunos utilizam IA de alguma forma, um aumento significativo em relação a 66% registrado em 2024. Além disso, 88% dos participantes relataram usar a tecnologia para ajudar com tarefas e avaliações. Esses dados indicam uma rápida mudança de percepção entre os alunos, que antes temiam a IA, mas agora a utilizam como parte de sua rotina. O crescimento no mercado de IA é também impressionante, com movimentações financeiras projetadas de 25,2 bilhões de dólares em 2023 para 112,3 bilhões de dólares em 2034 globalmente, segundo estimativas da consultoria MarketsandMarkets. No Brasil, o investimento em IA deve saltar de 20,5 milhões de dólares para 793 milhões de dólares, mostrando uma transformação significativa no mercado educacional.

A aceitação da IA nas escolas leva à necessidade de uma nova abordagem. Com a impossibilidade de ignorar essa realidade, é fundamental desenvolver estratégias que integrem a inteligência humana às ferramentas tecnológicas. Apesar dos desafios, a atual fase é considerada frutífera e requer um repensar das práticas educacionais. A era da tecnologia na educação já se estabeleceu.

Diversas iniciativas têm surgido para unificar o uso da IA em salas de aula. O governo do estado de São Paulo implementou um sistema de IA para correção de tarefas na rede estadual. Essa ferramenta, atualmente em fase de teste, abrangerá 5% das atividades de alunos do 8º ano do ensino fundamental e do 1º ano do ensino médio em várias disciplinas. A plataforma chamada TarefaSP já revisou cerca de 95 milhões de questões desde o início do ano letivo, utilizando algoritmos para facilitar a atividade dos educadores. O sistema foi construído a partir da versão 4 do modelo de linguagem ChatGPT e se apoia em gabaritos elaborados por professores, o que ajuda a minimizar erros ou informações incorretas.

Outras iniciativas inovadoras são notadas em diferentes estados. No Espírito Santo, por exemplo, o acesso à Letrus, uma IA que corrige redações com base nos critérios do Enem, resultou em uma melhora nas notas do estado em 2023. Escolas privadas no Brasil já utilizam aplicativos internacionais, como o Magic School, que permitem que docentes criem avaliações e possibilitam interação com um chatbot para esclarecer dúvidas dos alunos. A Somos Educação lançou a Plurall IA, que auxilia na correção de tarefas e na elaboração de listas de exercícios personalizadas. No Paraná, foi adotada a ferramenta Khanmigo, da Khan Academy, com a proposta de ser um “tutor digital”, oferecendo suporte individualizado aos alunos.

Observa-se um movimento positivo em direção ao letramento tecnológico, em que as escolas buscam integrar a tecnologia ao aprendizado. A adaptação rápida do corpo docente, substituindo a proibição do uso da IA por uma abordagem colaborativa, tem mostrado resultados promissores e facilitado a organização e a aprendizagem. A combinação de IA e elementos lúdicos nas aulas, por exemplo, está sendo explorada como uma oportunidade inovadora.

No entanto, conflitos entre as percepções sobre o uso da IA ainda surgem. Alunos expressaram descontentamento ao perceber que professores utilizavam recursos de IA que criticavam anteriormente, considerando isso como desonesto. Especialistas defendem que, desde que o uso da tecnologia seja transparente, não há razão para preocupação. Professores estão agora utilizando a IA tanto para planejamentos de aula quanto para avaliações, enquanto os alunos também são encorajados a declarar quando se utilizam de ideias geradas por IA. O entendimento crítico dos conteúdos, sejam eles de redes sociais ou de IA, é essencial.

A comparação com declarações do passado, como as de Thomas Edison sobre a substituição dos livros escolares pelo cinema, ilustra os ciclos de inovação e temor. Apesar de previsões apocalípticas, o que se observa é uma adaptação contínua na educação. O foco deve ser não apenas nas novas ferramentas, mas também nos métodos pedagógicos que podem ser enriquecidos por elas. A relação entre a IA e a educação deve ser vista como uma parceria, não como uma ameaça à aprendizagem.

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