O Príncipe do Boxe
Em 2014, dez anos após o falecimento de Waldemar Zumbano, também conhecido como Neno, o escritor e redator-chefe de uma importante revista visitou a casa de um dos boxeadores mais reconhecidos globalmente, Éder Jofre. É importante mencionar que Jofre era sobrinho de Zumbano. Durante a visita, o ex-pugilista estava enfrentando problemas de memória, que, por engano, foram inicialmente diagnosticados como Alzheimer; na verdade, ele sofria de encefalopatia traumática crônica, resultado das lesões sofridas ao longo da carreira. O escritor apresentou fotografias das conquistas de Jofre, das quais o atleta tinha pouco recorde. No entanto, ao adotar uma abordagem mais pessoal e mostrar imagens de seu avô e de sua mãe, que era prima de Jofre, o semblante do ex-lutador se iluminou. A familiaridade trouxe à tona memórias que estavam adormecidas em sua mente.
No livro "O Príncipe do Boxe", a narrativa traça a história da família Zumbano-Jofre, que foi fundamental na introdução do boxe no Brasil. Com apenas 88 páginas, a obra se assemelha a uma luta que termina rapidamente em nocaute, sendo direta, emocionante e concisa. Este formato reflete a proposta da editora, que tem como objetivo publicar narrativas impactantes em volumes curtos. A história de Waldemar Zumbano é rica e complexa, envolvendo ativismo político e uma paixão intensa pelo boxe, além de suas experiências ao redor do mundo, o que torna a síntese de sua biografia um desafio.
Waldemar Zumbano nasceu em Mococa, no interior de São Paulo, onde viveu até os dezoito anos. Mudou-se para a capital paulista em busca de trabalho e, durante sua estadia ali, alistou-se para lutar ao lado dos paulistas durante a Revolução Constitucionalista de 1932. Após o conflito, ele se juntou à Aliança Nacional Libertadora, parte do Partido Comunista Brasileiro. Perseguido pelo governo de Getúlio Vargas, Zumbano buscou refúgio em várias cidades do interior de São Paulo, onde realizava lutas contra boxeadores locais em ringues improvisados. Ele adotou o nome "Frank Éder", inspirado por um boxeador austríaco que conhecera através de um jornal. Essa foi a mesma origem do nome dado a Éder Jofre ao nascer.
A militância de Zumbano o levou a interações significativas com figuras importantes da intelectualidade brasileira. Ele foi agraciado com o apelido de "Príncipe do Boxe" por Paulo Bomfim e contava com a admiração de Jorge Amado, outro militante do PCB. O autor da obra comenta de forma leve sobre a dualidade de seu avô ser "um pugilista comunista". Zumbano foi preso diversas vezes e teve a oportunidade de treinar prisioneiros célebres, como o ensaísta Paulo Emílio Salles Gomes. Em 1964, logo após sair de sua última detenção, Zumbano foi designado para liderar a equipe olímpica de boxe nos Jogos de Tóquio. Sua viagem, no entanto, quase foi impedida por um oficial que levantou sua ficha de antecedentes, resultando em sua detenção. Ele foi liberado apenas após a intervenção do presidente do Comitê Olímpico do Brasil, que destacou a importância de Zumbano para a seleção. Essa amizade duradoura acabou influenciando profundamente a trajetória de Éder Jofre, que se tornaria um dos mais célebres atletas brasileiros, reconhecido mundialmente ao lado de outros ícones do esporte. O legado de Zumbano, um defensor incansável do boxe, continua a impactar o cenário do esporte no Brasil.