7 junho 2025
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Liberdade do Cabernet Sauvignon: Um Novo Capítulo da Vinha

Quando se fala em Cabernet Sauvignon produzido no Chile, é comum pensar em vinhos de coloração vermelha profunda, encorpados e com forte influência de carvalho. No entanto, essa percepção pode estar equivocada. Esse tipo de vinho robusto e denso é resultado do fenômeno conhecido como “parkerização”, que começou nos anos 1990. Nesse período, as vinícolas passaram a moldar seus produtos de acordo com o gosto do crítico americano Robert Parker, cujas altíssimas pontuações e medalhas se traduziram em sucesso comercial. Esse estilo dominante acabou se tornando uma norma. Antigamente, os vinhos chilenos eram mais suaves, menos extraídos, com teor alcoólico em torno de 12%, conforme informações de especialistas do setor.

Recentemente, há indícios de um movimento de retorno à sutileza e à elegância na produção do Cabernet Sauvignon. Um exemplo notável dessa tendência é o De Martino Cuvée 2022 Cabernet Sauvignon, que obteve 98 pontos no Guia Descochados 2025, figurando entre os três melhores tintos do Chile. Na safra anterior, em 2024, já havia sido reconhecido como o melhor tinto do ano. A degustação desse vinho revela uma cor menos intensa, aromas de frutas vermelhas evidentes e notas mentoladas menos agressivas. No paladar, apresenta taninos finos, frescor marcante e uma persistência agradável, o que o torna irresistível.

Marco De Martino, membro da terceira geração à frente da vinícola de quase 100 anos, relata que a propriedade localiza-se na Isla de Maipo, uma região com clima mediterrâneo e vinhedos replantados utilizando seleções massais, oriundos de vinhas trazidas ao Chile em 1840. De Martino enfatiza que a produção na vinícola é realizada com foco na pureza, sem o uso de químicos que poderiam industrializar o processo e comprometer a autenticidade do vinho. A vinícola busca transmitir a essência do terroir, oferecendo vinhos acessíveis e prontos para consumo imediato, mas que também têm potencial de envelhecimento.

Mateus Turner, gerente de marca do grupo LVMH no Brasil, observa que tanto no Chile quanto na Argentina, há uma crescente conscientização sobre a importância da acidez nos vinhos, refletindo uma tendência por opções mais gastronômicas e elegantes. O grupo LVMH exemplifica essa abordagem com vinhos da Terrazas de Los Andes, elaborados a partir de maceração suave, que extrai sabor e cor sem exageros. A técnica de uso de ânforas também tem contribuído para a produção de vinhos mais leves. Além disso, em vinhos como o principal blend da vinícola Cheval des Andes, ocorreu uma leve alteração na proporção de uvas: o Cabernet Sauvignon agora supera o Malbec, indicando uma nova direção para a vinícola.

O novo perfil de Cabernet Sauvignon, longe do modelo tradicional proposto por Robert Parker, vem recebendo críticas e feedbacks positivos, embora consumidores habituados a vinhos mais estruturados possam estranhar essa evolução. O preço de vinhos artesanais, como o De Martino Cuvée 2022, que custa cerca de 1.400 reais no Brasil, pode ser um fator de resistência para alguns. No entanto, especialistas acreditam em uma futura aceitação desse estilo mais delicado, prevendo um aumento na oferta de vinhos semelhantes na próxima década.

Neste cenário de constantes mudanças entre perspectivas tradicionais e novas abordagens, espera-se que a sutileza e a elegância dos novos Cabernet Sauvignon continuem a ser valorizadas e que não sejam ofuscadas por uma tendência retrógrada no mercado vinícola.

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