A atual liderança do Exército demonstra um apoio velado ao general Augusto Heleno, ex-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), na expectativa de que ele não seja penalizado no processo que investiga uma tentativa de golpe em 2022. Heleno enfrenta acusações no Supremo Tribunal Federal (STF) por cinco crimes, que incluem a abolição violenta do Estado democrático e organização criminosa, com penas que podem ultrapassar 40 anos de prisão.
Nos bastidores, militares de alta patente se esforçam para minimizar o envolvimento de Heleno, que aos 77 anos está afastado da ativa, nas atividades administrativas e negociações que ocorreram no final do governo Bolsonaro. Eles afirmam que o general não esteve presente nas discussões e nem foi consultado sobre os assuntos que foram tratados, segundo relatos de um general do Alto Comando.
A Procuradoria-Geral da República identificou que o ex-ministro do GSI esteve envolvido em diversas atividades ilícitas, incluindo a utilização de recursos estatais para disseminar informações falsas sobre o sistema eleitoral do Brasil. Durante as buscas em sua residência, foi encontrada uma agenda contendo anotações sobre estratégias, que incluíam a recomendação de continuar a criticar as urnas eletrônicas, além de registros sobre alegadas fraudes no processo eleitoral. A agenda também indicava um suposto plano para desconsiderar decisões judiciais que fossem desfavoráveis a Bolsonaro e sua equipe.
Apesar das evidências, membros ativos das Forças Armadas que defendem Heleno argumentam que suas anotações poderiam ser simplesmente registros de reuniões, sem um caráter de planejamento criminoso. Eles enfatizam que, como chefe do GSI, Heleno facilitou uma transição pacífica entre os governos Bolsonaro e Lula, sem criar obstáculos significativos.
No contexto da defesa da atual cúpula do Exército, composta por oficiais que foram criticados por aliados de Bolsonaro, destaca-se a importância histórica de Heleno nas Forças Armadas. O general é considerado um profissional brilhante em sua carreira, destacando-se como chefe da Força de Paz das Nações Unidas no Haiti, onde sua gestão foi elogiada, embora tenha sido alvo de críticas por eventuais violações.
Durante as investigações, a Polícia Federal descobriu um documento com a assinatura do GSI, denominado Gabinete Institucional de Gestão de Crise. Segundo a PGR, esse documento teria como objetivo orientar ações após um possível golpe de Estado, com o general Heleno assumindo a liderança do Gabinete de Crise. Além disso, foram utilizadas declarações do próprio Heleno de uma reunião ministerial em julho de 2022, onde ele mencionou a necessidade de estabelecer um “esquema para monitorar as ações de ambos os lados”, enfatizando que qualquer solução deveria ser encontrada antes das eleições de 2022.