sábado, fevereiro 1, 2025
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Grupo rebelde afirma ter tomado a principal cidade do leste do Congo

Rebeldes respaldados por Ruanda avançaram para o núcleo da maior cidade no leste do Congo nesta segunda-feira (27), de acordo com relatos de testemunhas, intensificando um conflito que já dura décadas em uma região severamente afetada por uma das mais graves crises humanitárias do mundo. A coalizão rebelde, capitaneada pela milícia M23, que é de etnia tutsi, afirmou ter dominado toda a cidade situada à beira do lago, embora essa informação não tenha sido confirmada de maneira independente. Disparos foram escutados nas proximidades do aeroporto, no centro urbano e na fronteira com Ruanda, e dois moradores relataram confrontos em curso entre milícias pró-governo e os combatentes do M23.

Um morador, que se identificou apenas como fonte anônima, conversou com a imprensa e comentou sobre a situação caótica na cidade. “Aqui nas imediações do aeroporto, estamos vendo soldados. Eu ainda não avistei o M23”, relatou ele. “Também há relatos de algumas lojas sendo saqueadas.” As regiões fronteiriças a leste da República Democrática do Congo são um caldeirão de feudos rebeldes e milícias, resultantes de duas guerras regionais que se seguiram ao genocídio em Ruanda em 1994, quando extremistas hutus massacraram cerca de um milhão de tutsis e hutus moderados. O M23, que é a mais recente de uma longa lista de grupos rebeldes liderados por tutsis apoiados por Ruanda, tomou Goma em 2012, mas saiu do local poucos dias depois, em função de um acordo mediado por países vizinhos.

Atualmente, o Congo abriga mais de 100 grupos armados, particularmente no leste da nação africana, que conta com aproximadamente 100 milhões de habitantes, área equivalente ao tamanho da Europa Ocidental e rica em recursos minerais, atraindo o interesse de empresas chinesas e ocidentais. Corneille Nangaa, líder da Aliança do Rio Congo — que inclui o M23 — declarou que suas tropas estavam no controle da cidade de Goma e que soldados do exército congolês estavam se rendendo. “Eles começaram a se rendir, mas isso leva tempo”, enfatizou. “É normal que os residentes ainda vejam soldados”. No entanto, a Autoridade de Transporte Aéreo afirmou que o exército ainda mantinha o controle do aeroporto.

A missão de paz da ONU no Congo, conhecida como MONUSCO, confirmou que 100 soldados congoleses entregaram suas armas a eles, como havia sido solicitado pelos rebeldes. Não houve uma resposta imediata por parte do governo ou das forças armadas congolesas. Na manhã desta segunda-feira (27), uma equipe da ONU e seus familiares estavam sendo evacuados para Ruanda, onde dez ônibus os aguardavam. Vídeos não verificados que circularam nas redes sociais mostraram moradores locais saindo com mercadorias de um depósito alfandegário próximo ao aeroporto e grupos armados, supostamente do M23, se deslocando por áreas suburbanas ao norte da cidade. Conforme relatos, 26 soldados e um policial congoleses cruzaram a fronteira e se entregaram às forças ruandesas.

Milhares de cidadãos da cidade fronteiriça de Gisenyi, em Ruanda, fugiram para o leste, em direção à capital Kigali, ao mesmo tempo em que o barulho das explosões em Goma se intensificava, segundo um repórter. A captura de Goma em 2012 resultou na criação de uma nova força da ONU com uma abordagem mais ofensiva, reformas nas tropas do Congo e pressão diplomática sobre Ruanda, levando à derrota do M23 no ano seguinte e à assinatura de um acordo que pedia sua desmobilização. Contudo, o grupo nunca se desarmou completamente e iniciou uma nova ofensiva em 2022, conquistando vastas extensões na província de Kivu do Norte, repleta de minas valiosas que extraem coltan, um mineral utilizado em smartphones.

Bem treinado e equipado, o M23 afirma existir para proteger a população tutsi do Congo contra o governo congolês e milícias étnicas hutus. Especialistas da ONU indicam que Ruanda enviou entre 3.000 a 4.000 soldados e forneceu armamento substancial, incluindo foguetes e atiradores de elite, para apoiar o M23. O avanço dos rebeldes desde o começo do ano forçou centenas de milhares de pessoas a abandonarem suas residências, além dos já 3 milhões de deslocados no leste do Congo em 2024, conforme divulgado pela ONU. Na última discussão do Conselho de Segurança da ONU, os Estados Unidos, França e Grã-Bretanha criticaram o que definiram como o apoio de Ruanda ao movimento rebelde.

Kigali, por sua vez, rechaçou as alegações que não levaram a soluções concretas, acusando o governo congolês de obstruir negociações com o M23 e de apoiar milicianos hutus que estiveram envolvidos no genocídio de 1994. O Ministério das Relações Exteriores de Ruanda destacou que os conflitos nas proximidades da fronteira continuam a ser uma séria ameaça à segurança e à integridade territorial do país, necessitando de uma postura defensiva robusta. O presidente do Quênia, William Ruto, que lidera a Comunidade da África Oriental, planejava convocar uma reunião emergencial com os chefes de estado para discutir a situação.

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