Cinco senadores da República foram mencionados por Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, durante as investigações da Polícia Federal sobre a tentativa de golpe de Estado no Brasil em 2022. Na sua delação, Cid indicou que alguns desses parlamentares instigavam o ex-presidente a promover uma intervenção militar, enquanto outros aconselhavam a desistir dessa ideia.
Cid relatou que, diante da onda de manifestações que se seguiram às eleições presidenciais de 2022, Bolsonaro recebeu uma série de autoridades no Palácio da Alvorada em diferentes momentos, para debater a possibilidade de um golpe de Estado. O ex-assessor, que esteve presente na maioria dessas conversas, organizou os nomes em grupos: os mais “radicais”, que apoiavam a intervenção, e os “moderados”, que recomendavam ao ex-presidente que convencesse o povo a voltar para casa e aceitasse sua derrota.
O testemunho do tenente-coronel à PF, prestado em agosto de 2023, foi divulgado na íntegra recentemente. Cid citou os senadores Ciro Nogueira e Flávio Bolsonaro como parte de um “grupo bem conservador, de linha bem política”, que tentava persuadir o presidente a não intervir nos resultados eleitorais. Eles sugeriram que Bolsonaro encerrasse os protestos e reconhecesse a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva.
Os integrantes deste grupo aconselhavam Bolsonaro a convocar o povo a ir para casa, apresentando-se como um líder opositor. Segundo Cid, essa liderança seria suficiente para direcionar a massa, que apenas aguardava uma orientação clara do presidente.
Além de Flávio e Nogueira, também foram mencionados o brigadeiro Carlos Baptista Júnior, que era o comandante da Aeronáutica, e Bruno Bianco, que ocupava a chefia da Advocacia-Geral da União.
Por outro lado, Cid destacou um grupo de aliados de Bolsonaro que se mostraram a favor de uma ação mais contundente. Dentro desse grupo “radical”, foram citados os senadores Magno Malta, Luis Carlos Heinze e Jorge Seif. Ao se referir a Heinze, Cid apontou que ele defendia a tese de fraudes nas urnas eletrônicas e buscava evidências para anular a vitória de Lula. O senador utilizou um documento do Ministério Público Militar para apoiar suas crenças de que as Forças Armadas podiam intervir sem autorização judicial.
Malta e Seif foram descritos como participantes de um setor ainda mais extremista, que defendia abertamente um golpe de Estado com apoio total das Forças Armadas. Essa facção se baseava em uma interpretação errônea do Artigo 142 da Constituição, que aborda as funções das Forças Armadas.
Este segundo grupo de “radicais” era favorável a uma ação armada, desejando encorajar um golpe de Estado e acreditando que, ao receber a ordem do presidente, contariam com o apoio popular. Segundo Cid, esses membros “romantizavam” a interpretação do artigo da Constituição como justificativa para a ação.
Esse grupo não era bem estruturado e incluía pessoas que se reuniam com o presidente ocasionalmente, buscando pressão por ações mais decisivas. Além de Malta e Seif, também faziam parte desse segmento deputados federais e outras figuras próximas ao ex-presidente.
No decorrer das conversas, Magno Malta acabou afastando-se da ideia do golpe armado, juntando-se a um terceiro grupo de “moderados”. Este grupo defendia que Jair Bolsonaro deveria deixar o Brasil antes da posse de Lula, e incluía empresários como Paulo Junqueira e Nabhan Garcia. Cid mencionou que Junqueira financiou a viagem do ex-presidente para os Estados Unidos após as eleições de 2022.