O sonho dos astrofísicos e heliofísicos que analisam a coroa solar está se concretizando com a criação de eclipses solares artificiais na órbita da Terra. Este feito inovador será realizado por duas espaçonaves da Agência Espacial Europeia (ESA). Lançadas por um potente foguete da agência espacial indiana (ISRO), as naves gêmeas Proba-3 viajarão em conjunto, operando como uma única unidade e “mantendo uma formação precisa de um milímetro”, conforme informações disponibilizadas pela ESA. Esse nível extremo de precisão tem um propósito específico: gerar eclipses solares artificiais durante a órbita ao redor da Terra, possibilitando observações prolongadas da coroa solar, que poderão durar até seis horas. Inicialmente, as espaçonaves permanecerão juntas durante uma fase de comissionamento supervisionada pela equipe do Centro Europeu de Segurança Espacial e Educação, localizado em Redu, na Bélgica. Em algum momento no início de 2025, elas se separarão e voarão a uma distância média de 150 metros uma da outra, alinhando-se com o Sol para que o Occulter projete uma sombra sobre o Coronagraph.
Os eclipses solares são considerados momentos ideais para o estudo da coroa solar, devido a uma condição única de observação. A Lua e o Sol possuem quase o mesmo tamanho aparente no céu da Terra, resultado de uma notável coincidência astronômica. A proporção matemática quase perfeita, na qual o Sol é 400 vezes maior que a Lua e está 400 vezes mais distante da Terra, faz com que ambos os corpos celestes pareçam ter o mesmo tamanho quando vistos da superfície. Essa “ajuste” resulta em um eclipse total, onde a Lua bloqueia integralmente a luz intensa do Sol, permitindo que instrumentos e telescópios analisem com clareza os detalhes da coroa solar, que, em condições normais, ficam ocultos pelo brilho ofuscante do disco solar. Durante o breve momento em que o eclipse acontece, que não ultrapassa sete minutos, os cientistas têm a oportunidade de investigar as características singulares da coroa, como suas estruturas de plasma, linhas de campo magnético e outros fenômenos relacionados ao comportamento do plasma e do campo magnético solar.
Antes do desenvolvimento dos coronógrafos, projetados para bloquear a luz direta do disco solar nos telescópios, e alguns satélites especializados, os eclipses solares representavam praticamente a única chance de estudar diretamente a atmosfera externa do Sol. Embora essas tecnologias tenham se tornado disponíveis, os eclipses solares, ocorrendo de duas a cinco vezes ao ano, tornam-se eventos científicos altamente buscados. Essa busca por reproduzir as condições ideais da Lua, que consegue cobrir totalmente o disco solar a cerca de 384,4 mil quilômetros da Terra, se tornou uma grande obsessão das agências espaciais. Contudo, “hoje em dia, não é prático colocar em órbita um único veículo espacial de 150 metros de comprimento”, provoca o diretor geral da ESA. Atualmente, a Proba-3 tem a capacidade de atingir este desempenho com apenas dois pequenos veículos espaciais perfeitamente sincronizados. Isso resultará em novas abordagens para operações no espaço, segundo um engenheiro da ESA. Quando as Proba-3 alcançarem suas órbitas mais altas, a cerca de 60,5 mil quilômetros da superfície da Terra, o Occulter emitirá uma sombra meticulosamente controlada sobre o satélite de observação Coronagraph, localizado a 150 metros de distância, gerando assim eclipses solares sob demanda. “A melhor maneira de demonstrar que esta nova tecnologia europeia funciona como esperado é gerar dados científicos inéditos”, conclui a autoridade da ESA.