Detonar uma granada sob o queixo ao invés de ser capturado, utilizar um colega para atrair drones de ataque e remover placas de armadura e capacetes para realizar avanços mais rápidos. Essas são algumas das táticas brutais e quase suicidas adotadas por soldados norte-coreanos, que foram enviados desde novembro para a fronteira sul da Rússia, em Kursk, em resposta à incursão da Ucrânia. Relatórios de inteligência ocidentais indicam que até 12 mil soldados norte-coreanos foram enviados à Rússia, com cerca de 4 mil mortos ou feridos, e outros reforços devem chegar, conforme informações da defesa ucraniana.
Ataques aéreos russos atingiram diversas regiões da Ucrânia e a troca de comandantes no leste ucraniano ocorreu após a Rússia conquistar uma cidade. A CNN conduziu entrevistas com tropas de operações especiais da Ucrânia, revelando detalhes sobre os soldados norte-coreanos envolvidos no conflito ao lado da Rússia. Em um vídeo disponíveis a partir dessas entrevistadas, um soldado ucraniano se aproxima de um norte-coreano ferido, que estava deitado de bruços. Durante o momento, o soldado norte-coreano grita em coreano antes de detonar uma granada próxima de sua cabeça, forçando os ucranianos a se afastarem rapidamente.
De acordo com informações de legisladores sul-coreanos, que receberam relatórios do serviço de inteligência, as últimas palavras do soldado no vídeo mencionaram “General Kim Jong Un”. Um comandante das 6ª Forças de Operações Especiais, codinome Pokémon, afirmou que os soldados norte-coreanos se utilizam de granadas, demonstrando disposição para autoaniquilação. “Eles avançam audaciosamente para a batalha até serem neutralizados”, acrescentou. Pokémon observou que os norte-coreanos não estão prontos para as realidades do campo de batalha atual na Ucrânia, onde a guerra é caracterizada por drones e trincheiras, resultando em grandes baixas.
Enquanto os soldados norte-coreanos são considerados jovens e bem treinados, Pokémon destaca que eles não tiveram experiências adequadas em combate moderno. Os ucranianos relataram que os norte-coreanos mantêm táticas de ataque frontal, frequentemente atacando repetidamente as mesmas posições, mesmo diante de pesadas perdas. Amur, um comandante de companhia, mencionou que alguns soldados retiraram seus capacetes e placas de proteção a fim de aumentar a mobilidade e atacar mais rapidamente as posições ucranianas.
Amur explicou que esses soldados são ágeis, movimentando-se rapidamente e evitando trajetos diretos para se aproximar das defesas ucranianas. Além disso, ele afirmou que eles costumam deixar minas antitanque nas estradas que atravessam. “Eles destroem cada abrigo e cada veículo com lançadores de granadas antitanque”, disse ele. Amur também mostrou à CNN equipamentos militares pertencentes a um soldado norte-coreano falecido, revelando que a mochila contida nele tinha o essencial para sobrevivência, mas estava repleta de munições.
As mochilas dos soldados incluíam pouca água e nenhum equipamento adicional para enfrentar o frio. Segundo Amur, os soldados norte-coreanos pareciam ter versões mais modernas do equipamento padrão russo, frequentemente portando múltiplos carregadores e granadas. Ele citou que um dos soldados estava armado com um fuzil AK-12, a mais recente variação do clássico AK-47.
No início deste mês, a Ucrânia conseguiu capturar dois soldados norte-coreanos, divulgando um vídeo que mostrava os homens feridos sendo tratados, como evidência do apoio militar de Pyongyang à Rússia. Imagens compartilhadas pelas forças ucranianas mostraram o momento da captura de um dos soldados, que estava claramente ferido e demonstrando dor ao ser transportado para um local seguro. O bombardeio russo tornou-se mais intenso nesse momento, com a intenção de impedir que o soldado fosse levado vivo.
As tropas ucranianas coletaram amostras de DNA dos soldados mortos, que indicaram origem do Leste Asiático, oferecendo mais provas da presença norte-coreana. O soldado visto detonando a granada no vídeo usava uma identidade militar russa falsa, afirmando ser de um determinado município da fronteira da Rússia. A CNN também teve acesso a várias anotações encontradas em corpos de outros soldados norte-coreanos, algumas das quais continham expressões de lealdade ao líder Kim Jong Un e exaltações à vitória no campo de batalha.
Entre os documentos, havia uma nota que detalhava a capacidade de combate da Coreia do Norte e zombava da Ucrânia. Outra declaração prometia bravura em combate. Autoridades ucranianas revisaram os documentos e determinaram que as tropas norte-coreanas veem seu envolvimento no conflito como uma chance de adquirir experiência de combate para futuros conflitos. Apesar de a Coreia do Norte contar com uma força militar significativa, suas tropas têm se mantido longe de batalhas reais desde a Guerra da Coreia.
Documentos adicionais também forneciam informações sobre atos de deslealdade registrados entre as tropas norte-coreanas. Uma nota mencionava um soldado que havia cometido uma traição ao roubar suprimentos, enquanto outra acusava um diferente de falhar em defender a honra do comandante. Amur relatou que algumas notas contêm táticas para enfrentar ataques de drones, já que os soldados norte-coreanos sofreram muitas perdas devido a isso.
Amur explicou que sua unidade foi capaz de eliminar um número elevado de soldados inimigos apenas usando granadas. Uma nota manuscrita que trazia o título “Como destruir drones” sugeria que os soldados atuassem como isca para atrair os drones. Um comandante de batalhão, conhecido como Bandit, relatou que esses soldados apresentaram boa habilidade em derrubar drones a distâncias consideráveis, o que aponta para uma sólida formação na Coreia do Norte. Amur descreveu seus adversários como implacáveis, afirmando que os norte-coreanos não mostram misericórdia, com os prisioneiros sendo frequentemente encontrados com tiros na nuca.