“Ainda estou aqui” é a primeira produção brasileira a ser indicada ao prêmio mais prestigioso do Oscar, competindo também neste ano nas categorias de melhor filme internacional e melhor atriz, com Fernanda Torres interpretando Eunice Paiva. Desde a sua estreia nos cinemas brasileiros em 7 de novembro do ano passado, o filme já atraiu mais de 3,8 milhões de espectadores. Quando perguntado se assistiria à obra e torceria por sua protagonista, o ex-presidente Jair Bolsonaro demonstrou desinteresse: “Não vou perder meu tempo, tenho o que fazer. Conheço a história melhor do que eles,” declarou em uma entrevista.
A película é uma adaptação do livro homônimo de Marcelo Rubens Paiva e retrata a trajetória de Eunice Paiva após a tortura e morte de seu marido, o ex-deputado federal Rubens Paiva (interpretado por Selton Mello), que ocorreu nos porões da ditadura militar em 1971. Sua morte deixou um profundo vazio na vida da viúva e de seus cinco filhos, incluindo o autor do livro. O corpo do ex-deputado nunca foi encontrado. Bolsonaro comentou que “gostaria que Paiva estivesse vivo”, mas criticou a narrativa como sendo “pela metade” e “glamourizada para um lado só”.
A conexão do ex-presidente com a família Paiva é histórica. Ele passou parte de sua adolescência em Eldorado Paulista (SP), no Vale do Ribeira, onde a família do ex-deputado, que foi cassado logo após o golpe militar de 1964, tinha a Fazenda Caraitá e exercia influência significativa na economia local e na vida social.
Por outro lado, Jair Bolsonaro veio de origens humildes. Em sua biografia escrita por Flávio Bolsonaro, o político relata que as distinções sociais o incomodavam, referindo-se à Fazenda Caraitá como uma imensa propriedade de domínio privado, que hoje seria considerada um latifúndio. Bolsonaro já mencionou uma suposta conexão entre Paiva e Carlos Lamarca, um guerrilheiro ativo na área, algo que foi negado pelos próprios Paiva. O ex-presidente costumava descrever os filhos de Rubens como jovens privilegiados que levavam uma vida repleta de luxos.
Quando se tornou deputado federal na década de 1990, Bolsonaro usou seu espaço no plenário para afirmar que Rubens Paiva não tinha sido assassinado por militares. Segundo sua versão, o ex-deputado teria sido morto por guerrilheiros de esquerda. Durante a homenagem em forma de busto ao político na Câmara, ele teria cuspido na estátua, chamando-o de “comunista” e “vagabundo”, conforme relatos de seus filhos.