Responsáveis por trazer alegria e nostalgia durante o Carnaval, as marchinhas têm mais de um século de história e constituem um elemento tradicional nas festividades e blocos dessa época. No auge de sua popularidade entre os anos 1920 e 1960, as marchinhas foram compostas com letras simples para facilitar a memorização, frequentemente apresentando duplos sentidos que garantem o humor característico das canções. Embora contenham versos que podem ser considerados inaceitáveis nos dias atuais, essas músicas refletem verdadeiramente seu tempo, com algumas sendo reimaginadas pelos próprios compositores.
A marchinha “Ô Abre Alas”, considerada a primeira da História, foi criada por Chiquinha Gonzaga em 1899, influenciada pelas marchas populares portuguesas e tradições locais dos blocos de Carnaval. Com uma letra marcante, sua popularidade se renova a cada ano durante as festas: “Ó abre alas! / Que eu quero passar / Eu sou da lira / Não posso negar / Ó abre alas! / Que eu quero passar / Rosa de Ouro / É que vai ganhar”.
Outro destaque é “Mamãe Eu Quero”, uma das marchinhas mais icônicas do gênero, composta por Vicente Paiva e Jararaca. Sua interpretação mais famosa foi a de Carmen Miranda, que a divulgou internacionalmente no filme “Serenata Tropical”, em 1940, com a conhecida letra que fala sobre o desejo de um bebê.
Composta por Mirabeau, Milton de Oliveira e Urgel de Castro, “Turma do Funil” é uma marchinha que aborda de forma bem-humorada a bebedeira típica do Carnaval. A canção ganhou uma nova versão na interpretação de Tom Jobim e Chico Buarque, e seus versos refletem a descontração dos foliões.
Uma marchinha de destaque, “Cachaça Não É Água”, foi lançada em 1953 e faz uma crítica ao consumo excessivo de bebidas alcoólicas durante a folia, exaltando a cachaça, destilado nacional apreciado pelos carnavalescos. Seus versos enfatizam as diferenças entre a cachaça e a água de forma lúdica.
“A Pipa do Vovô”, imortalizada por Silvio Santos, foi composta por Manoel Ferreira e Ruth Amaral. A canção retrata um avô assistindo à competição de pipas, utilizando um jogo de palavras que tem causado risadas até hoje.
A letra de “Cabeleira do Zezé”, de João Roberto Kelly, surgiu a partir da observação de um garçom de cabelos compridos em um bar do Rio de Janeiro. Embora a música tenha gerado controvérsias em relação ao seu teor racista e homofóbico, o compositor assumiu a responsabilidade e lançou uma nova versão chamada “Eu sou gay” em 2023, em homenagem à comunidade LGBTQIA+.
“Me Dá Um Dinheiro Aí”, famosa na interpretação de Moacir Franco, é uma marchinha que permanece entre as mais cantadas durante o Carnaval, usando um tom de brincadeira para comentar sobre questões financeiras.
A marchinha “Allah La Ô”, de Haroldo Lobo e Antônio Nássara, faz uma alusão ao calor carioca, comparando-o de forma humorística ao clima do deserto do Saara.
Por fim, “Aurora”, criada por Mário Lago, surgiu em uma Quarta-feira de Cinzas e aborda a falta de sinceridade que impede uma vida melhor, expressando esse tema por meio de versos acessíveis que continuam a ressoar.
O cenário do Carnaval de São Paulo promete novidades, com previsão de um número recorde de blocos de rua para o próximo evento.