Pesquisas indicam que a habilidade de movimentar as orelhas, embora rara entre os humanos modernos, ainda reflete uma herança evolutiva. Estudos realizados por especialistas da Universidade de Saarland, na Alemanha, da Universidade do Missouri, nos Estados Unidos, e da companhia WS Audiology, demonstram que os músculos que controlam as aurículas, a parte externa das orelhas, continuam ativos durante a concentração em sons, mesmo que a movimentação real não ocorra mais.
Dentre as adaptações de nossos ancestrais primatas, a mobilidade das orelhas permitia a localização precisa de fontes sonoras, uma habilidade que se perdeu com o tempo. Atualmente, as aurículas humanas funcionam mais como elementos decorativos. Contudo, o estudo revelou que os músculos relacionados ainda respondem aos estímulos auditivos, indicando a persistência de um mecanismo evolutivo que poderia facilitar a atenção em ambientes barulhentos.
No experimento realizado, 20 jovens com audição normal participaram de uma atividade em que ouviam trechos de audiolivros enquanto um podcast tocava simultaneamente, criando interferência sonora. Sensores em torno das orelhas registraram a atividade elétrica dos músculos auriculares, e foi observado que os participantes ativavam esses músculos involuntariamente ao tentar focar na leitura.
Os pesquisadores explicam que existem três músculos principais que conectam a orelha ao crânio e ao couro cabeludo, sendo que um deles, o músculo auricular superior, mostra uma atividade significativa durante a concentração auditiva. Essa resposta sugere que esses músculos atuam como parte de um mecanismo mais amplo de atenção auditiva, o que pode ser crucial em ambientes sonoros complexos.
Historicamente, a capacidade de mover as orelhas foi vital para a sobrevivência de primatas há cerca de 25 milhões de anos, que precisavam identificar ameaças e oportunidades pelo som. Com a evolução, os humanos passaram a adaptar a audição movendo a cabeça, resultando na perda da habilidade de movimentar as orelhas. Atualmente, apenas uma pequena porcentagem da população ainda consegue realizar esse movimento.
Ainda que os movimentos auriculares sejam agora mínimos e não impactem diretamente a audição, as evidências sugerem que os circuitos neurológicos responsáveis por essa capacidade permanecem ativos. Ao tentar ouvir em meio ao ruído, o cérebro ainda envia sinais para os músculos, mesmo que a movimentação não seja perceptível.
As implicações da pesquisa podem ser significativas, especialmente para o campo auditivo. Os pesquisadores planejam expandir a investigação para compreender como esses espasmos musculares podem afetar a audição de indivíduos com deficiência auditiva. Tal conhecimento poderá trazer avanços no desenvolvimento de novas tecnologias para aparelhos auditivos e terapias que visem melhorar a percepção sonora em diferentes contextos.