O cérebro humano desempenha um papel fundamental em todas as atividades, desde as mais simples até as mais complexas. Uma dessas atividades, a fala, exige um esforço considerável. Curiosamente, transformar um pensamento ou ideia em palavras é a parte mais simples deste processo. Para que a voz seja produzida de maneira eficaz, sinais são enviados simultaneamente para os pulmões, língua e boca. Portanto, a saúde cerebral é crucial para que esses processos funcionem adequadamente. A complexidade da fala possibilita que médicos e especialistas diagnostiquem condições e doenças através da análise da voz. Especialistas indicam que em 25% dos casos de Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA), a primeira alteração observada está relacionada à forma de articular as palavras.
Avanços recentes em inteligência artificial (IA) têm encorajado a exploração de suas aplicações no reconhecimento de padrões vocais. Inicialmente, esse uso da tecnologia foi voltado para a monitorização de pacientes que não podiam comparecer a consultas. Os resultados têm excedido as expectativas, uma vez que a IA pode identificar mudanças sutis na fala que podem passar despercebidas até pelos neurologistas mais experientes. Os algoritmos usados na pesquisa são capaz de detectar desvios mínimos que um ser humano não perceberia.
Para treinar a inteligência artificial, os pesquisadores têm alimentado uma base de dados extensa com gravações de vozes de pacientes de diversas idades, sotaques e condições de saúde. Dessa forma, a tecnologia é capaz de aprender a distinguir características vocais e identificar problemas. Os pesquisadores enfatizam a necessidade de cautela, ressaltando que um diagnóstico não pode ser feito apenas com base em alterações na fala. Para garantir isso, um estudo sobre envelhecimento tem recrutado participantes saudáveis, permitindo que o algoritmo aprenda como é a voz de uma pessoa saudável em diferentes idades.
O objetivo final dos pesquisadores é possibilitar o monitoramento domiciliar acessível. A solução é baseada em um aplicativo que opera na nuvem, permitindo que qualquer pessoa com acesso à internet utilize a ferramenta. As gravações de voz dos pacientes são tratadas com a devida sensibilidade e segurança. Cada paciente recebe um link exclusivo para uma versão do aplicativo de gravação, e os arquivos de áudio são armazenados com camadas de segurança adequadas, limitando o acesso apenas aos envolvidos na pesquisa.
Apesar dos obstáculos enfrentados, os pesquisadores continuam a avançar com os experimentos, visando a preparação do aplicativo para testes finais de aprovação. O próximo passo, se o algoritmo provar a eficácia em auxiliar diagnósticos, é disponibilizar a ferramenta para profissionais da saúde. Além disso, há planos para coletar amostras de outros idiomas, ampliando o impacto e o alcance do projeto.