11 fevereiro 2025
HomeNegóciosO Impactante Monólogo Silencioso de Mateus Solano

O Impactante Monólogo Silencioso de Mateus Solano

Mateus Solano apresenta-se em O Figurante, uma peça em cartaz no Teatro Renaissance, em São Paulo. Seu personagem, Augusto, representa um individuo anônimo, parte de um coletivo que atua no fundo das narrativas, sem receber reconhecimento. O personagem reflete sobre aqueles que transitam pelas cidades, aguardando elevadores e participando de eventos sem que suas identidades sejam reconhecidas, embora estes ajam como suportes que tornam as histórias dos protagonistas possíveis. A peça destaca esses figurantes, dando-lhes a devida voz e presença no centro da narrativa.

No palco, caracterizado por um cenário minimalista, onde as cortinas cinzas se misturam ao figurino de Solano, o ator utiliza seu corpo e a versatilidade de sua voz para dar vida a esse personagem. Ele tem se dedicado a essa pesquisa de linguagem em colaboração com Miguel Thiré, seu diretor, que considera a encenação como uma representação crucial, fundamentada no corpo e na voz.

A trama de O Figurante aborda questões sobre invisibilidade e protagonismo nas histórias que consumimos. Levanta reflexões sobre quem realmente está no centro das atenções e o que é perdido ao ignorar aqueles que permanecem nos limites da cena. A rotina de Augusto é repetitiva e silenciosa; ele se levanta, se prepara e toma seu café, sem pronunciar uma palavra. Nesse silêncio, Solano explora a mímica como um meio expressivo, gerando risadas por meio de gestos e movimentos elaborados.

Antes de desempenhar seu papel diário, Augusto ensaia, refletindo sobre o passado do personagem e atribuindo a ele uma história e uma identidade, como se fosse o protagonista de uma narrativa grandiosa. No entanto, ao se apresentar, ele é silenciado, tendo suas ações controladas pelo diretor e outros membros da produção, representando a luta por expressão em um ambiente que valoriza o coletivo em detrimento do indíviduo.

Solano empresta sua voz a personagens que representam a equipe de produção, como diretores e atores que, embora falam, permanecem fora da vista do público. Essa abordagem visa dar voz àqueles que, frequentemente, são ignorados nas produções cinematográficas, destacando a importância da sua presença e do seu trabalho.

A peça também representa um marco na carreira de Solano, que pela primeira vez atua sozinho em cena. Ele reconhece que essa experiência tem sido fundamental para seu crescimento pessoal e profissional, enfrentando seus próprios medos e desafios sem distrações externas.

A dramaturgia de O Figurante foi elaborada com base no método Escrita na Cena, de Isabel Teixeira, que incentiva a improvisação e a criatividade. Durante o processo, Solano e Teixeira colaboraram em momentos anteriores, fortalecendo a conexão entre o protagonista e a história.

A criação de O Figurante representa um “garimpo do inconsciente”, conforme o próprio ator descreve. As improvisações de Solano foram documentadas e trabalhadas para preservar a essência de suas ideias e reflexões. Ele menciona que o conceito da peça já existia em sua mente por mais de uma década, mas apenas agora se concretizou, destacando que a obra ainda está em desenvolvimento e que continua a ensinar-lhe novas lições.

O ator comenta sobre um período marcante de sua carreira ao interpretar o vilão Félix na novela Amor à Vida. Esse papel o fez sentir-se como um figurante em sua própria vida, quando a fama e o reconhecimento que conquistou começaram a definir sua identidade pública. Ele reflete sobre a distinção entre seu verdadeiro eu e as expectativas que foram impostas a ele.

Essas reflexões são não apenas sobre fama, mas também sobre como todos são, em muitos aspectos, moldados pelas percepções e projeções dos outros. Mesmo na era digital, na qual muitos buscam ser protagonistas de suas narrativas nas redes sociais, Solano observa que a busca por reconhecimento persiste, revelando a complexidade das interações humanas contemporâneas.

Durante a apresentação, que tem duração de 70 minutos, Solano entretém o público enquanto os convida a refletir sobre suas próprias histórias e papéis. Ele questiona a audiência sobre sua posição, se são protagonistas ou figurantes em suas trajetórias pessoais, oferecendo uma perspectiva relevante para os desafios do tempo presente.

NOTÍCIAS RELACIONADAS
- Publicidade -

NOTÍCIAS MAIS LIDAS

error: Conteúdo protegido !!