Qual é o estado atual da moda americana? Essa indagação pode ser parcialmente respondida pela Semana de Moda de Nova York, que se concluiu recentemente, onde marcas como Calvin Klein e Thom Browne exibiram suas mais recentes coleções. Essa temporada foi marcada por grandes estreias, retornos e mudanças significativas entre os estilistas do país.
Neste contexto de reestruturação no setor, várias marcas de destaque, como Proenza Schouler, Area e Helmut Lang, não estavam na programação, devido à saída de seus diretores criativos. Marcas tradicionais como Tommy Hilfiger e Ralph Lauren optaram por não participar desta temporada, enquanto outras realizaram desfiles em locais internacionais ou em outros estados dos EUA. Por exemplo, Willy Chavarria, um renomado estilista nova-iorquino, decidiu apresentar sua coleção durante a semana de moda masculina em Paris. Já a marca Bode, mesmo figurando na programação oficial, lançou sua coleção em Nova Orleans durante um evento que combina futebol americano e moda.
Apesar da programação reduzida em Nova York, o evento ainda teve momentos de grande criatividade, como o desfile fora da programação oficial de Marc Jacobs, que apresentou modelos em silhuetas exageradas, e os vestidos inspirados em automóveis e roupas de clube de Christian Siriano. No entanto, a tendência geral se inclinou para coleções mais discretas e práticas, evidenciadas pelo desfile “anti-esnobe” da Eckhaus Latta, que apresentou peças como jaquetas bomber de couro e calças cargo.
A primeira apresentação de Veronica Leoni para a Calvin Klein, após a saída de Raf Simons em 2018, foi aguardada com expectativa. Leoni transmitiu uma mensagem de modernidade ao oferecer roupas business casual em tecidos fluidos e uma alfaiataria solta. Nos bastidores, destacou: “Nos inspiramos no arquivo, mas tentamos não ficar presos ao passado.” Calvin Klein, o fundador da marca, também esteve presente, junto com modelos icônicas como Kate Moss e Kendall Jenner, que desfilou com um vestido-casaco listrado.
Modelos e celebridades como Ella Emhoff e Dove Cameron participaram de desfiles, enquanto personalidades como Katie Holmes e Whoopi Goldberg estiveram na primeira fila do evento de Christian Siriano. Keke Palmer marcou presença em desfiles de diferentes estilistas, reforçando a diversidade de participantes.
Nos bastidores, designers como Sergio Hudson comentaram sobre os desafios enfrentados pela moda americana, afirmando a necessidade de maior apoio ao talento local em meio à crescente atenção às semanas de moda na Europa. Hudson enfatizou que, apesar da falta de recursos, há muitos bons designers nos Estados Unidos que precisam ser valorizados.
O esperado retorno de Christopher John Rogers à Semana de Moda de Nova York também trouxe à tona as dificuldades enfrentadas pelas marcas independentes. Sua apresentação vibrante foi um reflexo dos desafios que permeiam a indústria. Por outro lado, a designer Elena Velez, inspirada por folclores, refletiu sobre a complexidade da feminilidade em suas composições, ressaltando a luta contínua para ser reconhecida no setor.
A atmosfera da semana foi ainda impactada pelo clima político, com marcas enfrentando os efeitos de tensões comerciais entre os EUA e a China. O impacto das novas políticas sobre a diversidade e inclusão na moda também foi um tema relevante, com estilistas clamando por mais representação e visibilidade para diferentes corpos e culturas.
Coleções que abordam intimidade e conexão foram destacadas, como no caso de Prabal Gurung, que buscou transmitir uma mensagem de esperança em meio à incerteza. Na Collina Strada, a fundadora Hillary Taymour focou em uma visão comunitária, abordando questões sociais e de direitos, enquanto modelos participaram de performances emotivas que destacaram a necessidade de apoio mútuo no contexto atual.
A moda americana, mesmo diante de mudanças políticas e incertezas, demonstra sua resiliência, com muitos designers independentes se esforçando para contar histórias que fazem diferença. A abordagem intrépida e otimista dos criadores reflete a diversidade da cidade de Nova York, reafirmando a importância de vozes autênticas e comprometidas na indústria da moda.