13 fevereiro 2025
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Caverna na Polônia Exibe Evidências Incríveis de Canibalismo Antigo

Pesquisadores do Instituto Catalão de Paleoecologia Humana e Evolução Social (IPHES-CERCA) e do Conselho Superior de Pesquisas Científicas da Espanha (CSIC) documentaram a existência de canibalismo pré-histórico na caverna Maszycka, localizada na Polônia. O estudo, que foi publicado na revista Scientific Reports, investigou marcas encontradas em ossos humanos que indicam o consumo de carne durante o período Magdaleniano, datado de aproximadamente 18 mil anos atrás.

A pesquisa envolveu a análise de 53 fragmentos ósseos pertencentes a pelo menos dez indivíduos, sendo seis adultos e quatro crianças. Em cerca de 70% dos restos analisados, foram identificadas marcas de cortes e fraturas que são compatíveis com técnicas usadas para desmembramento, remoção de carne e extração de tutano, comportamentos típicos associados ao consumo de carne.

As marcas de cortes foram observadas em áreas do corpo que são geralmente utilizadas para a obtenção de carne e gordura, como a parte de trás do crânio, articulações e ossos longos. Além disso, algumas das ossadas mostraram sinais de que o cérebro pode ter sido extraído, possivelmente para consumo. Essa prática foi verificada em outras localizações pré-históricas, o que sugere que o canibalismo poderia ter sido um aspecto cultural desses grupos humanos.

Outro achado significativo é que as fraturas encontradas nos ossos ocorreram enquanto os corpos ainda estavam frescos, indicando que não houve um longo intervalo de decomposição antes da manipulação dos restos. Isso sugere que o canibalismo não era um ato ocasional, mas sim uma prática intencional.

A questão do canibalismo se insere em um contexto que pode ser tanto de necessidade quanto ritual. Apesar de geralmente ser associada a situações extremas, os pesquisadores sugerem que em Maszycka, o canibalismo pode ter ocorrido com conotações ritualísticas ou bélicas.

Essa suposição se baseia no fato de que, na mesma época e em outras regiões da Europa, foram encontradas evidências de ossos humanos que foram transformados em ferramentas e adornos, indicando que o consumo de carne humana poderia ter um significado simbólico. Em locais arqueológicos semelhantes, há registros de crânios esculpidos como “taças cerimoniais” e ossos utilizados para a fabricação de joias.

Entretanto, também é possível que o canibalismo tenha ocorrido no contexto de conflitos entre grupos rivais. A pesquisa sugere que, após a última era glacial, o aumento populacional e a competição por recursos poderiam ter gerado confrontos violentos, levando grupos a matar e consumir adversários como uma forma de demonstração de poder.

Além da caverna Maszycka, há diversos outros sítios arqueológicos na Europa onde arqueólogos encontraram evidências de canibalismo entre grupos do Paleolítico Superior. O estudo aponta pelo menos 17 locais que mostram sinais de manipulação dos corpos, semelhantes às práticas identificadas em Maszycka. Um exemplo notório é a caverna de Gough, no Reino Unido, onde também foram encontradas evidências claras de canibalismo, incluindo crânios utilizados como recipientes e ossos humanos mesclados com restos de animais.

As descobertas em Maszycka oferecem uma nova perspectiva sobre a relação complexa que os primeiros humanos tinham com a morte e os restos de seus semelhantes. Enquanto algumas sociedades pré-históricas se dedicavam a enterrar seus mortos com rituais e ornamentos, outras parecem ter abordado a morte de maneira diferente, incluindo o ato de consumir carne.

Essas investigações indicam que o canibalismo pode ter sido uma prática mais prevalente do que se imaginava, desafiando a noção tradicional de que os ancestrais humanos se dedicavam exclusivamente à caça de animais para sobreviver. Existem ainda muitas questões a serem elucidadas acerca das motivações que levaram a essas práticas, mas a caverna Maszycka oferece uma nova e provocadora visão sobre as sociedades do passado.

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