Na terça-feira, uma cena que poderia ser confundida com uma encenação humorística foi observada no Salão Oval da Casa Branca. Donald Trump se posicionou atrás da mesa resoluta, a clássica mobília de carvalho que foi doada pela rainha Vitória no século XIX, e assumiu uma expressão formal. Ao seu lado, Elon Musk, acompanhado de seu filho X Æ A-Xii, usava o famoso boné com o slogan “faça os Estados Unidos grandes de novo”. O evento consistiu na assinatura que oficializava a redução de milhares de postos de trabalho no governo americano, tarefa delegada ao empresário, que, por sua vez, não quis a presença de jornalistas da Associated Press, uma vez que a organização se negou a referir-se ao Golfo do México com a nomenclatura desejada pelo presidente.
Essa ação foi uma resposta direta à recente capa da revista Time, que mostrava Musk em uma pose autoritária, sugerindo que ele detinha o poder na situação. Trump, percebendo isso, decidiu marcar território e demonstrar que continuava no controle. O republicano concedeu aos poderes de Musk a capacidade de cortar despesas do governo, um processo realizado de maneira controversa. O que estava aparentemente subestimado na equação, contudo, era a necessidade de dividir a atenção com Musk.
Elon Musk investiu cerca de 280 milhões de dólares na campanha de Trump, lançando uma loteria com prêmios monetários para mobilizar apoiadores. Essa estratégia resultou na criação do Departamento de Eficiência Governamental (DOGE, em inglês), que, apesar de não ter status ministerial, obteve acesso a informações sigilosas da administração pública e autoridade para eliminar órgãos considerados desnecessários. Na primeira coletiva ao lado de Trump, Musk defendeu essa iniciativa como uma solução para o crescente déficit fiscal, que alcançou 711 bilhões de dólares no último trimestre do ano anterior, afirmando que a proposta era um reflexo de como a democracia funciona.
Com previsões de cortes de 5% a 10% no número de servidores públicos, que totalizam cerca de 2,5 milhões, Musk já anunciou que seus alvos iniciais seriam departamentos com opiniões consideradas liberais. Entre eles está a USAID, a principal agência de ajuda humanitária, que está sendo fechada, e o Departamento de Educação, responsável por empréstimos estudantis. Ambos os organismos enfrentam críticas por supostamente gastarem os recursos do contribuinte em iniciativas consideradas irrelevantes, como financiar desfiles de moda em capitais internacionais. Essa política de cortes está polarizando a opinião pública, com predominância de desaprovação nas pesquisas.
O acesso sem restrições do DOGE a dados sigilosos do Tesouro Nacional, que no ano anterior movimentou 6,7 trilhões de dólares, gerou preocupações. Críticos, como Alex Thomas, do think tank Institute for Government, expressam que a transformação do governo em um modelo corporativo pode acarretar perdas financeiras significativas e impactar vidas. No entanto, Musk mantém sua abordagem direta, similar à que utiliza em suas empresas, onde decide unilateralmente. Funcionários de agências afetadas foram notificados por e-mail sobre suas novas demissões, e aqueles que se opuseram a fornecer informações solicitadas pelo DOGE enfrentaram consequências imediatas. A reação foi tão intensa que dezenove procuradores do Partido Democrata, junto com sindicatos, entraram com processos judiciais no intuito de interromper as atividades do órgão. Um juiz de primeira instância aceitou suspender as ações do DOGE, mas a decisão final dependerá da Suprema Corte.
A controvérsia jurídica em torno do DOGE se concentra na relação informal de Musk com o governo. Controvérsias sobre conflitos de interesse são levantadas, especialmente considerando que as empresas de Musk mantêm vínculos com o governo. Embora Trump afirme que Musk não tem benefícios pessoais nesse relacionamento, há um emaranhado de questões envolvendo a Tesla, que está sendo investigada devido a acidentes relacionados ao seu sistema de direção autônoma, e a SpaceX, que possui contratos governamentais de mais de 15 bilhões de dólares.
Dentro desse contexto tumultuado, Musk ainda busca adquirir a OpenAI, a empresa por trás do ChatGPT, um movimento destinado a ser analisado pelos órgãos antitruste. Críticos levantam preocupações sobre a possibilidade de Musk utilizar dados estratégicos para influenciar políticas econômicas e comportamentos eleitorais. Nesse cenário, o filho de Musk, X Æ A-Xii, permanece a única figura aparentemente genuína, simbolizando um novo capítulo nas relações entre negócios e governo.