Três aviões particulares, contas bancárias nos Estados Unidos, uma rede complexa de empresas fantasmas que se estende do Brasil a Dubai, conexões com o PCC e a máfia italiana, além de um cachorro chamado Escobar, caracterizam o império internacional de Willian Barile Agati, um empresário brasileiro que se entregou à polícia em janeiro, acusado de lavar até 2 bilhões de reais do tráfico de cocaína entre 2017 e 2024. A defesa do acusado nega as alegações apresentadas.
Agati está envolvido em pelo menos quatro investigações distintas da Polícia Federal (PF), em que é considerado o líder de uma vasta organização criminosa com ramificações identificadas nos Estados Unidos, Europa, Emirados Árabes Unidos e Moçambique. A polícia listou pelo menos 79 pessoas, tanto físicas como jurídicas, em um pedido de bloqueio de bens enviado ao Ministério Público Federal.
Segundo os investigadores, o esquema operava principalmente a partir do Porto de Paranaguá, no Paraná, que é o maior terminal de exportação de produtos agrícolas do Brasil. Em colaboração com o PCC, o grupo liderado por Agati enviou toneladas de cocaína disfarçadas em sacas de café, gergelim, amendoim, lentilha e outros grãos para a Europa, onde a droga era recebida pela máfia italiana ‘Ndrangheta e distribuída em países como Espanha, Bélgica e Holanda.
As investigações revelaram que, além dos embarques marítimos, parte das drogas foi transportada em aviões particulares, escondidas em compartimentos secretos, conhecidos como “mocós” no jargão policial. Foi identificado pelo menos três aeronaves ligadas à quadrilha ou ao próprio Agati que teriam sido utilizadas para o tráfico de drogas.
Para a lavagem dos lucros obtidos com atividades ilícitas, a organização de Agati é considerada a controladora de uma extensa rede de empresas de fachada. O esquema de lavagem de dinheiro abrange diversos setores econômicos.
Entre as companhias associadas a Agati estão a Better Filters, produtora de filtros para cigarro com sede em Araraquara; a Burj Motors, concessionária de automóveis em São Paulo; a FI1RST, agência de viagens em Florianópolis; e a La Cocagne Jardim, localizada na capital paulista e especializada em prestação de serviços de alimentação. Internacionalmente, foi identificada a Agrooil, sediada em Dubai, supostamente atuando no agronegócio e na exploração petrolífera. O site da empresa apresenta descrições genéricas de seus serviços.
O inquérito também sugere um envolvimento do grupo narcotraficante com o Cruzeiro Esporte Clube. De acordo com as investigações, a equipe de futebol recebeu mais de 3 milhões de reais em pagamentos da F1IRST, correspondente a serviços de turismo em 2021, e devolveu metade desse valor para a Burj Motors e para Agati no ano seguinte. Os sócios de Agati também são indicados como representantes do jogador Diogo Vitor, embora os detalhes dessa relação não estejam totalmente esclarecidos.
As investigações da PF revelaram que a organização comandada por Agati teria ordenado, em 2020, o assassinato de quatro traficantes que supostamente roubaram uma carga de 500 quilos de cocaína. Mensagens criptografadas encontradas indicam que Agati expressou sua desaprovação em relação a um terceiro associado, reafirmando que decidiu eliminar os envolvidos no roubo.
Após ser considerado foragido a partir de uma ação policial em dezembro de 2024, Agati se entregou à Divisão de Capturas da Polícia Civil de São Paulo em 22 de janeiro de 2025, sendo posteriormente transferido para uma prisão em Tupi Paulista, onde aguarda julgamento. A defesa de Agati refuta todas as acusações relacionadas a tráfico de drogas, lavagem de dinheiro, homicídio e associação criminosa. Em uma declaração, o advogado do empresário ressalta a idoneidade de Agati e contesta as alegações da PF como infundadas.
A defesa alega que as acusações se baseiam em interceptações telefônicas ilegais e informa que pretende solicitar um habeas corpus ao Superior Tribunal de Justiça para revogar a prisão do empresário. De acordo com a defesa, Agati se ofereceu para colaborar com as autoridades durante suas interações com a polícia, sustentando que não há fundamentos para sua detenção. Sobre o envolvimento com o Cruzeiro, a defesa afirma que todas as transações relacionadas ao jogador Diogo Vitor cumpriram as legislações pertinentes, uma vez que Agati está devidamente registrado como empresário de futebol. O Cruzeiro, por sua vez, declarou que a gestão atual do clube, que começou em maio de 2024, não tem conhecimento dos fatos mencionados e está disposta a colaborar com as investigações.