22 fevereiro 2025
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O Grande Conflito: Segredos da Luta pelo Legado

O ano de 2025 poderá representar o desfecho de uma trajetória de mais de trinta anos do PSDB na política brasileira. O partido, que liderou o país entre 1995 e 2002 e tornou-se o principal opositor do PT por longos períodos, tem enfrentado um significativo declínio nos últimos anos, especialmente após 2018. Neste ano, o bolsonarismo conquistou a posição de principal adversário do PT, atraindo eleitores de direita que antes apoiavam o PSDB. As dificuldades enfrentadas incluem derrotas em regiões históricas fortemente tucanas, uma grande migração de prefeitos para outros partidos e uma perda de importância nos debates sobre temas nacionais. Uma preocupação crescente é a diminuição de sua representação no Congresso, principalmente na Câmara dos Deputados, gerando temores sobre a possível extinção do partido em virtude da cláusula de barreira que limita acesso a recursos e tempo de propaganda. Diante disso, os tucanos estão buscando alianças com partidos maiores como uma possível solução para a crise.

Atualmente, o PSDB encontra-se federado com o Cidadania, mas essa parceria, estabelecida há três anos, tem enfrentado críticas e deve ser desfeita em maio. Há negociações em andamento para um acordo com outros partidos como o Podemos e o Solidariedade, embora as perspectivas de progresso nesses acordos sejam modestas. As negociações mais promissoras estão sendo feitas com siglas maiores, como o PSD, liderado por Gilberto Kassab, que deseja a incorporação do PSDB. Os Republicanos também oferecem a possibilidade de fusão, enquanto o MDB parece estar aberto a colaborações, o que poderia representar um retorno atípico, já que o PSDB foi criado em 1988 a partir de dissidências do MDB, com o intuito de construir um projeto social-democrata.

Ainda que atravessando um período de crise, o PSDB conserva um certo valor político, pois conta com treze deputados, o que, em caso de fusão, garantiria a essas legendas uma das maiores bancadas na Câmara. Entretanto, divergências internas e questões jurídicas complicam o cenário. Num processo de fusão, seria necessário criar um novo estatuto, resultando na extinção das siglas originais e na formação de um novo partido. Por outro lado, a incorporação permite que a sigla incorporadora mantenha sua identidade e estrutura.

A proposta de incorporação ao PSD não foi bem recebida por alguns líderes tucanos, como o deputado Aécio Neves, que considera a ideia um desrespeito à história do PSDB. O diálogo com os Republicanos se intensificou após a ascensão de Hugo Motta à presidência da Câmara, e a possibilidade de fusão ganhou apoio dentro do PSDB. Já com o MDB, as conversas devem evoluir nas próximas semanas, com o presidente da legenda, Baleia Rossi, mantendo em aberto a possibilidade de colaborações. A expectativa entre as lideranças é que o PSDB tome a iniciativa sobre qual direção seguirá.

Um calendário inicial previa uma decisão sobre o futuro do PSDB em março, mas essa decisão foi adiada para que houvesse um tempo maior para reflexões. As negociações estão complicadas, especialmente devido às articulações locais que, em alguns casos, apresentam conflitos de interesse. Em Goiás, por exemplo, já existe uma disputa entre a Aécio Neves, presidente nacional do PSDB, e o governador Ronaldo Caiado. Além disso, uma união com o PSD poderia resultar em concorrência interna, eliminando espaços para lideranças tradicionais do PSDB em Minas Gerais.

Atualmente, a situação do PSDB contrasta fortemente com seu passado glorioso, quando o partido desempenhou papel fundamental em várias conquistas nacionais, como a implementação do Plano Real e a criação da Lei de Responsabilidade Fiscal. A perda de influência, especialmente após sucessivas derrotas para o PT entre 2002 e 2014, agravou a crise interna. A falta de apoio nas eleições de 2018 e a tumultuada pré-candidatura de João Doria, que culminou em um boicote interno, evidenciam as fragilidades e divisões do partido. Especialistas atribuem a crise a erros estratégicos históricos, como a centralização das decisões em São Paulo e a falta de conexão com novas lideranças em outros estados.

A perda do controle de São Paulo, um dos principais bastiões do PSDB, foi um golpe significativo, especialmente após a eleição de Tarcísio de Freitas como governador. As escolhas recentes dos tucanos, incluindo a candidatura de um apresentador de televisão para a prefeitura de São Paulo, refletem uma desconexão com a trajetória histórica do partido. As dificuldades atuais exigem decisões difíceis sobre a sobrevivência do PSDB, em um cenário que se torna cada vez mais desafiador.

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