Oito e meia da manhã no Delta do Okavango, em Botsuana. Elefantes, zebras e impalas se reúnem para beber água nas margens do rio. Do outro lado, visitantes do Wilderness Jao observam a cena confortavelmente instalados em cadeiras de couro, protegidos da luz solar e recebendo massagens nos pés com óleos artesanais, enquanto o chef prepara ovos em um farto café da manhã.
A abordagem dos hotéis de safári, que outrora se restringia a saídas de carro para observar os Big 5, passou por transformações significativas. O turismo de safári evoluiu para uma experiência mais multifacetada e ativa nos últimos anos. A alta gastronomia, a enologia e a mixologia tornaram-se elementos padrão, enquanto a variedade de atividades disponíveis durante a estadia se expandiu consideravelmente.
Ofertas como visitas a comunidades locais, passeios de balão, safáris a cavalo e de bicicleta, aulas de culinária com famílias locais, caminhadas guiadas por veterinários em meio à fauna selvagem e jantares surpresa nas savanas tornaram-se componentes importantes na escolha do local de hospedagem.
De acordo com especialistas do setor, a crescente demanda por experiências diversificadas é um reflexo de uma tendência global que prioriza vivências autênticas. Jacque Dallal, fundadora de uma agência de viagens de alto padrão, afirma que os lodges africanos estão cada vez mais integrando atividades diversificadas a seus serviços, seguindo o que se observa na hotelaria mundial mais ampla.
Eduardo Gaz, CEO de um grupo que reúne várias marcas de turismo, concorda que essa transição é uma evolução natural do segmento. Ele ressalta que a diferenciação dos lodges de safári também reflete uma estratégia comercial que, ao mesmo tempo, gera impactos positivos para as comunidades locais e para a experiência do viajante.
Mudanças nas prioridades dos viajantes nas últimas décadas indicam uma crescente busca por horários flexíveis e experiências mais culturais, espelhando a tendência global por autenticidade no turismo. Os lodges de safári estão respondendo a essa demanda, oferecendo experiências cada vez mais personalizadas e sofisticadas.
Historicamente, os primeiros lodges de safári de luxo na África surgiram há pouco mais de quatro décadas, e, desde então, o mercado passou por mudanças drásticas. O setor de safáris na África está projetado para movimentar US$ 23,10 bilhões até 2030, com um percentual de crescimento anual próximo a 10%. No que tange aos lodges de luxo, a previsão é que atinjam um valor de mercado de US$ 2 bilhões no mesmo período, segundo dados de análises de mercado. O Fundo Monetário Internacional (FMI) indicou que nove países africanos deverão estar entre as 20 nações com maior crescimento econômico em 2025, grande parte deste crescimento sendo atribuído ao turismo de luxo.
O Wilderness Jao é conhecido como o primeiro lodge de safári de luxo de Botsuana e faz parte de um portfólio de mais de 60 propriedades geridas por um grupo que opera em diversas partes da África. Com diárias a partir de US$ 1.850 por pessoa, o lodge está situado em uma reserva privada de 60 mil hectares e tem se mantido como um exemplo de sucesso na observação da vida selvagem. Recentemente, passou por uma reforma significativa, incluindo um design sustentável e espaços mais amplos e requintados. As acomodações foram projetadas como luxuosas casas na árvore, conectadas por passarelas suspensas, minimizando o impacto ambiental.
O lodge oferece alta gastronomia e um bar sofisticado, engajando-se em iniciativas como oficinas educativas para crianças das comunidades locais e massagens durante os safáris. Durante a pandemia de COVID-19, muitos lodges enfrentaram desafios significativos, levando algumas operações a adotar estratégias inovadoras para sustentar suas comunidades e proteger suas áreas contra a caça.
A Great Plains Conservation tem se destacado nesse sentido, promovendo um turismo regenerativo em suas propriedades no Quênia, Botsuana e Zimbábue. Essa rede converteu terras anteriormente voltadas à caça em áreas de conservação, fomentando a mão de obra local e melhorando a infraestrutura social e econômica dos destinos por onde passam.
As interações com comunidades locais são amplamente valorizadas pelos hóspedes, destacando-se em relação às experiências oferecidas. O lodge Cheetah Plains, na África do Sul, elevou essa proposta ao incorporar jipes de safári elétricos e um conceito all inclusive que embarca uma forte presença de arte contemporânea. Com apenas três vilas de quatro suítes cada, o Cheetah Plains se tornou um destino premium, oferecendo uma gama de serviços e experiências, incluindo degustações de vinhos e aulas de culinária.
Esse lodge, inaugurado na reserva Sabi Sands, rapidamente se transformou em um ponto de encontro para personalidades influentes, buscando algo além da tradicional proposta de safáris, proporcionando vivências mais imersivas e personalizadas.