A crise relacionada ao sistema de pagamentos Pix, juntamente com a inflação dos alimentos, tem contribuído para uma queda na popularidade do presidente Lula, que, de acordo com pesquisas recentes, enfrenta pela primeira vez uma rejeição maior do que a aprovação em seu governo. Diante da situação econômica, assessores do presidente consideraram a possibilidade de implementar medidas não convencionais para tentar reduzir os preços dos alimentos, mas tais ações interventoras foram, felizmente, descartadas.
O presidente foi persuadido a acreditar que não existem soluções mágicas para a redução dos preços e que a desvalorização do dólar, aliada a uma colheita recorde no Brasil, poderá amenizar os custos nas prateleiras dos supermercados. Lula parecia seguir um bom caminho até que, em uma entrevista, delegou ao público a responsabilidade de controlar a inflação, sugerindo que, caso os consumidores percebam que um produto está caro, evitem comprá-lo. Ele afirmou que, se houver consciência coletiva sobre os preços, os vendedores serão obrigados a reduzir os valores para não perder vendas, já que os produtos poderiam estragar.
Mesmo a ex-presidente Dilma Rousseff, conhecida por sua falta de habilidade política, criticaría essa declaração de Lula. Em 2014, durante sua campanha de reeleição, ela classificou como “extremamente infeliz” a recomendação de um secretário de seu governo para que a população substituísse carne por ovos para lidar com a inflação.
Com cinco décadas de experiência na vida pública e seis candidaturas à presidência, Lula tem um conhecimento profundo sobre o impacto político que a inflação e o aumento dos preços dos alimentos podem ter. Nas campanhas de 1994 e 1998, ele foi derrotado pelo tucano Fernando Henrique Cardoso, que fora eleito e reeleito após controlar a inflação que corroía o poder de compra da população. Em 2022, o ex-presidente utilizou o aumento dos preços dos alimentos como uma estratégia para vencer Jair Bolsonaro. Naquele ano, uma das campanhas do PT televisionava a pergunta sobre o que poderia ser comprado com 100 reais, mostrando que, sob a gestão de Bolsonaro, o trabalhador levava para casa apenas itens básicos como um pacote de salsicha, uma dúzia de ovos e um litro de leite. A locutora então ressaltava que, nos tempos de Lula, era possível adquirir muito mais, como a comida para as crianças, pão, café, além da carne para o almoço e o churrasquinho de fim de semana.
Essa promessa, que se tornou símbolo da campanha, incluía a oferta de picanha a preços acessíveis e cerveja para acompanhar. No entanto, após dois anos de mandato, essa promessa não foi cumprida, e a elevação dos preços dos alimentos resultou em uma nova queda na popularidade do governo. A situação econômica é uma das questões mais sensíveis para os eleitores.